terça-feira, 20 de outubro de 2009

O QUE COME CADA ORIXÁ - 2ª PARTE





Na África, os orixás eram muitas vezes os elementos primordiais de uma cultura social baseada em linhagens de parentesco. A primeira preocupação dos senhores era desfazer esses laços, dispersando os grupos de uma mesma etnia para evitar possíveis revoltas de escravos. Todavia, esse fato levou os africanos e seus descendentes a se voltar para tudo àquilo que, em meio à hostilidade dos senhores, poderia preservar sua identidade, ou seja, as histórias e rituais de seus orixás. Os motivos socializadores de oferecer rituais e comidas aos deuses do Candomblé auxiliam no fortalecimento dos laços religiosos e éticos que unem os adeptos das religiões afro-brasileiras, contribuindo para o aumento do contato entre os homens e os orixás. O costume de oferecer reforça a fé e as identidades. Os muitos procedimentos da culinária sagrada, os detalhes e a sofisticação dão qualidades especiais a cada prato individualmente, forma, estética, sabor, sentidos simbólicos aos alimentos. Há sentido e função em cada ingrediente e há significado nas quantidades e nos procedimentos, pois comer é antes de tudo se relacionar.

Para melhor entender a interação entre oferecer o alimento, sua simbologia e como este refletirá na vida do homem, é preciso conhecer as características dos deuses. Associando o que é oferecido e a quem é oferecido, podendo assim compreender o sentido do ritual. Para que a troca ou transferência de energia ocorra, é preciso que o homem esteja em sintonia no momento do ritual, com seus objetivos e com o orixá.

EXÚ - O COMUNICADOR

 Pade de dendê

Exu é a figura mais controvertida do panteão africano, o mais humano dos orixás, o senhor do principio e da transformação. Deus da terra e do fogo. Ele é a ordem, aquele que se multiplica e se transforma na unidade elementar da existência humana. Todos que tem uma vida próspera no Candomblé sabem cultuar Exu. Nenhum sacerdote da religião pode negar que quem traz dinheiro para o terreiro é Exu, e que uma farofa cobrindo a rua (sua moradia) opera os maiores milagres emergênciais. Esta farofa tem como constituinte na sua preparação o azeite de dendê, esta é a principal comida do orixá Exu, é uma representação do alimento diário. Sua preparação se dá através da mistura de farinha de mandioca grossa com azeite de dendê, em quantidades proporcionais. Exú come de tudo, contando que esteja regado com  muito azeite-de-dendê e ataré, pimenta. Exu recebe ainda, pratos á base de milho vermelho torrado, feijão preto torrado no dendê e farofas de vários tipos: farofa de mel, de água, de cachaça, de vinho, de champanhe, de cerveja, embora se saiba que, como “dono do azeite”, a farofa de azeite é sua iguaria preferida.

OGUM - O GUERREIRO

 Inhame



A maior de todas as guerras, que se trava desde os primórdios da humanidade, é a luta pela sobrevivência. Ogum consagrou-se um grande guerreiro porque sempre conduziu a humanidade na luta pelo sustento, pelo pão e pelo progresso. Desbravador e corajoso não tardou em ser coroado rei. Conquistou vários territórios e foi saudado com fervor em toda África negra. Ogum é guerreiro que, além de caminhar incansavelmente sobre a terra, arranca dela seu sustento e divide com outros orixás como Oxaguiã, o gosto pelo inhame, com a diferença que Ogum prefere assado, ou seja, a comida que o serve é menos elaborada e por isso vem de encontro as suas características. Aquele que está frente a grandes batalhas pode recorrer a Ogum, ofertando-lhe o pão de cada dia (inhame), assado em brasa e deixado em uma longa e plana estrada, que é muito bem aceito por este orixá. A ele se oferece inhame  assado, milho torrado e aluá ( bebida fermentada de rapadura de gengibre),inhame assado e espetado com taliscas de Mariwo, como também come o inhame simplesmente cortado ao meio, passado mel e dendê . Recebe feijão preto em forma de feijoada, milho vermelho torrado e enfeitado com coco . Acredita-se que os Orixás guerreiros comem também cru ou torrado pois eles não tem tempo de esperar...

continua.........

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