Mostrando postagens com marcador ORI. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ORI. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013



ÌPÒRI – O CULTO À PLACENTA

O ìpòri é um dos três elementos que constituem a alma. Ele simboliza a energia advinda diretamente de nossos ancestrais. Esta energia é ligada a nossa cabeça (orí), ao nosso eledá (guia ancestral, Orixá) e ao nosso destino (odù).
O ipori não é um ente individualizado, mas como uma partícula de hereditariedade, que impõe sua marca na personalidade, na vida, na saúde e portanto no destino de cada Ser. Uma espécie de “DNA espiritual”.
Por ser imaterial, após a morte da pessoa, o ipori se desprende e acompanhará aquela alma nas próximas reencarnações (atunwá), funcionando como um registro de ancestralidade, quase como uma “caixa preta” que registra ao longo de sucessivas existências, as emoções, as experiências, as marcas de ancestralidade, etc.
Observemos que o conceito de ancestralidade, é muito mais abrangente do que a idéia de mera consanguinidade.
O Ìpòri resume em si uma espécie de “força ancestral” que faz um elo entre orí do indivíduo, passando por seus antepassados mais remotos, até chegar a seus ascendentes divinizados (eledás).


Com este conceito, explica-se a força espetacular que funda os gêneros familiares, perpetua as culturas e une os Homens em uma cadeia global.
A cultura nagô simboliza o ipori como matéria da qual os Orixás escolheram a massa para nos moldar. Poderiamos comparar o ipori a massa que faz o pão.
Antes de qualquer oferenda à cabeça, seja um bori, ou a simples oferenda de um obi, sempre o ipori deverá ser evocado, numa saudação aos ancestrais daquela pessoa.
O ipori é então reverenciado pelo oficiante quando este toca a sola do pé direito (lado paterno) e do pé esquerdo (lado materno).
Este gesto é repetido todos as vezes em que um iniciado está recolhido. Quando os mais velhos tocam a sola dos pés do “recolhido” para acordá-lo, estão despertando o ipori daquele irmão.
Por ser tão importante o ìpòri merece um ritual próprio, chamado de culto à placenta.
Este rito consiste no ato de enterrar o cordão umbilical e a placenta do recém-nascido aos pés de uma árvore existente na comunidade onde vive sua família, a fim de que seja então mantido o elo de ancestralidade que liga aqueles seres desde o òrun (céu) até o áiyé, despertando assim o enikéji (nome dado ao nosso duplo etéreo que vive no Òrun). Enikéji: do Yoruba, Eni – pessoa, Kéji – Segunda.
Orí Inú é a essência do psiquismo, da personalidade da alma, que deriva diretamente de Olódùmarè, Deus Supremo. O Orí Inú e nossa essência, aonde Deus Criador soprou o seu hálito (èmí), e nos criou. O Orí Inú é o ser interior e espiritual do homem e é imortal.
O ipori é peça fundamental a este conceito. O Homem se torna imortal a medida em que se perpetua na essência de seus descendentes.
Entender o ipori como liame entre o ser e seus ancestrais, reafirma o forte conceito yorubá de respeito e de gratidão aos mais velhos, bem assim a necessidade de honrar aqueles que viveram antes e nos proporcionaram não só a vida, mas as condições de viver.
Contudo, em nenhum momento a reconhecimento do ipori como herança ancestral, exime o Homem de sua responsabilidade. Antes pelo contrário, reforça que a pessoa deve valorizar os elementos que herdou para aperfeiçoar-se, esmerando seu próprio caráter (ìwà).

terça-feira, 26 de junho de 2012

ORI NA VISÂO JEJE




O tá (cabeça) e/ou ahisu (termo utilizado para designar “cabeça espiritual” ou mesmo espírito) é um conceito da cosmogonia jeje que muito se assemelha ao conceito yorubá de Orí, claro que mantendo significativa diferença e sendo sua explicação um tanto mais complexa do que a de orí, dada pelos yorubás.
Do ponto de vista da cultura fon, o tá (cabeça) é multifacetado ao mesmo tempo que é único. já que cada um de nós somos uma unidade e essas facetas só existe em conjunto. É dividido em algumas camadas denominadas sombras. São quatro: WENSAGUN (sombra mensageira), YE (sombra reflexa), LINDON (sombra longinqua) e SÊ (sombra permanente). Para entendermos melhor: “Wensagun” seria a camada ou sombra que está em comunicação com o astral, o mensageiro, seria o que nos liga enquanto mortais ao plano astral; “Ye” seria nossa força vital em desdobramento visível, nosso corpo e a sombra que dele se origina abaixo da luz – seria em sí nosso próprio existir no mundo, o transcorrer de nossa vida na terra; “Lindon” é a nossa capacidade de pensamento, essencial ao “Ye” para nosso existir; “Sê”, enfim, como sombra permanente é invisível, imultável, não conhecendo a morte, nosso próprio espírito, dotado de inteligência, e carrega nosso dulè (odú em yorubá – destino pessoal).
Estas sombras fazem parte do tá (cabeça) como um todo, formando a concepção de ahisu, e o Vodun habita no nosso tá. Mas o tá, ao contrário do Vodun, não exige que seja “assentada”, por isso o Jeje não faz uso do igbá-orí, pois acreditamos que o tá é o próprio igbá-orí.
Quando realizamos o Tásèn (“cultuar a cabeça”), cerimônia jeje equivalente ao Borí dos yorubás, também conhecido como Apehe (termo originário do Jeje Mina) ou Jwá, estamos fazendo uma oferenda ou uma propiciação ao tá (em todos seus aspectos) para que a pessoa entre em equilíbrio com seu ser e seu destino, também estreitando as ligações com o Vodun principal e pessoal (tavodun) que é aquele que também habita o seu tá.
Enfim,

SÊ - é o poder do princípio de transformação, é a unidade do princípio espiritual no homem; é o princípio espiritual divino com tripla função;
YÊ -é o princípio vital em desdobramento visível como a sombra tirada do corpo que os ADJA-FON chamam AGBASA;
LINDON - significaria o poder de pensar, seria a expressão dessas faculdades essenciais do YÊ que nomeamos IRO;
WENSAGUN - seria enfim o SÊ se comunicando com o supremo para receber e anunciar as mensagens fundamentais da vida e da morte;
Sê - é o princípio divino imortal que se transforma no sujeito YÊ, expressão da própria pessoa. Shê não morre, ele é então o espírito.
Yê - é a personalidade humana em desdobramento no tempo. Poderia ser condenado ao vazio, ele é portanto o alma.

A INFLUÊNCIA DO CANDOMBLÉ

Em relação à

VIDA :
É a união do SHÊ com o YÊ sendo projetada no mundo elementar;

MORTE :
É o estado que finaliza o alma, que só tem posição no mundo elementar;

FELICIDADE :
É o estágio máximo, ou seja, de grande nível de equilíbrio do SHÊ com o YÊ;

HOMEM :
Ser de qualidade social acompanhado de suas origens, inclusive seu ODU ( destino ) principal;

PERSONALIDADE :
Características formadas por uma origem adaptada ao SÊ e ao YÊ quando assim se encontram, já desde o primeiro momento que se é lançado no mundo elementar;

VODUN :
É o SÊ em seu estado de harmonia própria com cada elemento neste ou em outro mundo;

O VODUN NÃO MORRE ! ! !

A influência do Asé é a de equilibrar o máximo que pode, cada Ser que aqui se encontra, o conhecimento de si e de suas origens elementares; o conhecimento sobre seu próprio limite de personalidade, o arredondamento, ou seja, o auto-domínio de sua índole e do seu caráter. O sucesso então é o de seguir resignado toda a trajetória no mundo elementar e chegar à morte consciente de que, é hora de retornar o corpo ( matéria ) à natureza; e também o de respeitar todos os elementos que aqui se encontram ou não.
O homem, sabendo de onde veio, onde está, quais são suas origens e para onde ele retornará, terá uma vida mais consciente e real neste mundo elementar.

domingo, 12 de junho de 2011

ORI - CIÊNCIA DE VIVER

                                
                            
                           ORI


I - Atitudes diante da necessidade 
Estar vivo implica ter necessidades. As necessidades são impositivas, inescapáveis. Por isso, é fundamental aprender a lidar com elas. Aqui vão alguns fundamentos práticos para isso; 
(1): É preciso cultivar a paciência, pois, se existem necessidades que conseguimos satisfazer rapidamente, muitas outras exigem que saibamos esperar. 
(2): Saber esperar exige perseverança, capacidade de não desistir, de não desanimar. 
(3): Devemos compreender que certas necessidades exigem que acumulemos méritos por muito tempo. 
(4): Outras cobram de nós que nos fortaleçamos. 
(5): Outras ainda que nos transformemos. 
(6): E não se esqueça de cultivar sempre a autoconfiança, a firmeza e a consciência. Seguindo este cardápio, cedo ou tarde a maioria de nossas necessidades será satisfeita e, para nosso alívio, algumas delas perderão completamente a importância. “Aprenda a lidar com as necessidades sem se deixar arrastar por elas”. 
II - A atitude de educar-se e de educar os outros 
Educar-se é ter permanentemente a sua disposição uma fonte de água pura e cristalina. A sede de conhecer, de saber, de compreender deveria ser sempre estimulada, apoiada, pois ela torna os homens verdadeiramente humanos. Na medida em que bebemos das águas do conhecimento, elas podem, por nosso intermédio, se alargar, crescer, tornar-se um grande rio fluente que irá nutrir um incontável número de seres humanos. Na verdade, quem se educa acaba educando os outros, pois é levado a beneficiar seus semelhantes de várias maneiras. Por isso, educar-se é não apenas nobre, mas necessário, imprescindível mesmo. É também uma forma de retribuirmos à humanidade o que dela recebemos. 
I - A felicidade “Lembre-se diariamente que não há caminho para a felicidade; pelo contrário, a felicidade é o caminho”. Acreditamos, equivocadamente, que a felicidade é um estado que alcançaremos um dia, caso aconteçam algumas coisas que desejamos. Com essa atitude, vivemos tensos todos os dias de nossa vida, lutando para obter o passaporte para a felicidade. E a experiência nos mostra que os que tiveram a chance de realizar aquilo com que sonhavam logo se desiludiram e recomeçaram a procurar a felicidade em alguma outra quimera. Na verdade, a felicidade é um estado de espírito, uma disposição interior. É uma atitude diante da vida, do imenso privilégio de estar vivo. É o agradecimento que se faz diariamente por poder participar da vida neste planeta que é tão belo, embora, muitas vezes, tão desafiador. Felicidade é gostar de sorrir, é ser grato por existir. É, pois, um estado interior que pode ser cultivado diariamente. Só depende de sua atitude! 
II - Não pense negativamente 
Não invista sua energia na idéia de crises e infortúnios. Em vez disso, perceba que há, neste planeta, inúmeras possibilidades de progresso, e que são praticamente inesgotáveis. Existe, ao nosso redor, um poço sem fundo de novas idéias, que estão a nossa espera. Por isso, pense “progresso”, “prosperidade”, “possibilidades”. Fazendo isso, você naturalmente acessará a criatividade que dormita no fundo do seu ser. 
III - A autoimportância é um problema 
Todos nós temos de procurar encontrar nosso valor específico como indivíduos que somos. Isso é humano e natural. Mas é errado confundir essa atitude com a auto- importância. A autoimportância é uma força insaciável, pois está sempre exigindo que tenhamos mais poder, mais prestígio, mais fama, mais dinheiro, mais afeto, ou seja, mais tudo. Além disso, a autoimportância nos isola dos demais sem percebê-lo, pois nos convence de que somos superiores a todos, fazendo-nos viver uma ficção dolorosa e estéril. Dessa forma, vivemos em conflito com tudo e com todos, pois vemos em tudo uma ameaça em potencial a nossa autoimportância. Se refletirmos sobre isso, estaremos preparando terreno para que ela se torne menos tirana em nossa vida. Se acrescentarmos a essa visão o fato de podermos fazer decrescer dentro de nós o medo de não termos valor, nosso processo de libertação avançará a passos largos. “Nade liberto e feliz entre os obstáculos da vida”. 
I - Saber qual é a medida justa 
Saber qual é a medida justa para cada coisa, para cada situação, para cada ato é uma qualidade importantíssima. Precisamos colocar limites no que precisa ser limitado, abrir o que precisa ser aberto, atravessar as dificuldades da vida sem ser derrotado ou seriamente machucado. A medida justa tem, portanto, duas faces: por um lado precisamos refrear os excessos e, por outro, abrir possibilidades. Nesse sentido, podemos nos comparar a um carro que precisa ter breque, mas precisa também ter acelerador. Se praticarmos essa atitude, poderemos atravessar melhor qualquer crise que se apresente. 
II - Ser capaz de se por de acordo 
O acordo entre pessoas é a base do sucesso para qualquer iniciativa. Estar de acordo é o segredo da empresa bem sucedida, do casamento estável, do empreendimento artístico de sucesso e de muitas outras coisas. Estar de acordo fará superar todas as dificuldades que um casal obrigatoriamente encontrará na vida ou que uma empresa, ou de qualquer outro tipo de sociedade terá de enfrentar. Por isso, se pudermos desenvolver essa atitude em nós mesmos, se pudermos ser aquele que sempre procura estar de acordo, seremos estimados e valorizados de forma extraordinária. “Colocar-se de acordo com as pessoas e com a natureza é ficar em harmonia com o Todo”. 
III - A busca do progresso 
“Nunca desencoraje quem faz progressos contínuos, não importando quão lentamente o faça”. A busca constante do progresso, do aperfeiçoamento, de uma melhor qualidade é o segredo para estarmos mais vivos a cada novo dia. Quando não temos essa atitude como força motora, estamos estagnados sem percebê-lo. Por sermos humanos, somos dotados de uma capacidade de desenvolvimento ilimitada, em múltiplas direções. Se ignorarmos esse fato, limitando-nos a uma repetição mecânica de velhos atos monótonos, se nos deixarmos acomodar na “mesmice”, perderemos o brilho do olhar, pois estaremos perdendo o sabor de estar vivo. Andaremos e nos moveremos, mas não estaremos vivos de fato. 
IV - As três faces da vida 
“As mentes pequenas são subjugadas e vencidas pelos infortúnios, mas as grandes mentes erguem-se acima deles”. O fluir da vida nos oferece, basicamente, três cenários: infortúnios, momentos de boa-sorte e fases neutras. Cada um de nós passa, necessariamente, por coisas desagradáveis, agradáveis ou neutras. Se compreendermos esse fato com clareza, ou seja, que a Grande Dama chamada Vida tem três faces, os momentos difíceis ─ as chamadas crises ─ terão um impacto muito menos doloroso sobre nós. É fundamental que isso fique bem claro em nossa inteligência, pois a inteligência é a principal arma do ser humano. Armados dessa compreensão, ou seja, de que os cenários da vida se alternam para TODOS os seres humanos, poderemos nos elevar acima dos acontecimentos e continuarmos nosso caminho, seja ele qual for. 
I - A atitude do essencial 
De tempo em tempo, é muito útil, para nosso bem-estar, nos examinarmos com cuidado, para podermos discernir o que é realmente essencial em nós do que nos veio por intermédio do processo de educação, ou seja, pelos condicionamentos a que fomos submetidos. Desse ponto de vista, podemos dizer que temos dois lados: um que nos é inerente, e, portanto, genuíno, e outro que nos foi implantado de fora. O processo de nos implantarem algo é normal e universal. A grande vantagem, porém, de nos tornarmos adultos é que adquirimos a capacidade de olhar para nós mesmos a fim de perceber o que nos foi imposto por esse processo e o que é genuinamente nosso. Se exercitarmos esse olhar, pouco a pouco iremos distinguindo melhor o que de fato desejamos do que nos foi ensinado que deveríamos desejar; o que de fato pensamos em contraposição ao que todos pensam ao nosso redor; começamos a distinguir o que de fato amamos do que nos foi ensinado a amar; o que de fato somos daquilo que dizem que somos. Se praticarmos a atitude de olhar para nós mesmos, iremos, pouco a pouco, abandonando tudo o que não nos pertence. E isso nos tornará imensamente livres! 
II - A atitude que pode nos levar à abundância 
Se formos capazes de trabalhar com intensidade e, ao mesmo tempo, refinar nossa inteligência, cedo ou tarde a abundância e a riqueza virão até nós. Em outras palavras, precisamos cultivar, ao mesmo tempo, a nossa força e a nossa luz. Desenvolver a inteligência implica aprender a distinguir o verdadeiro do falso, o necessário do supérfluo, o certo do errado, o justo do injusto. Desenvolver a força significa não permitir que nossa energia de progresso degenere em avidez destemida; que nosso natural anseio por coisas boas não decaia em prazeres descontrolados; que nosso empenho em avançar não destrua nosso caráter. Se buscarmos essa atitude e a abundância vier nos beneficiar, poderemos dar o próximo passo que é manter a riqueza adquirida. Nessa etapa, é decisivo saber distinguir o que é real do que é apenas aparência. 
III - A atitude não conflituosa 
Podemos agir cotidianamente a partir de uma atitude belicosa, conflituosa, sem ao menos percebê-lo. Isso é muito comum entre as pessoas e é mais fácil notar essa atitude nos outros do que em nós mesmos. Vale, pois, a pena nos examinar para detectar esse tipo de disposição, escondida subterraneamente em nós mesmos. O fato é que uma atitude mais harmônica nos torna mais descontraídos, mais leves, mais agradáveis e o mundo ao nosso redor reage a isso de forma muito positiva. Estar em conflito é estar rígido. Estar em harmonia é estar relaxado. A disposição conflituosa é carrancuda enquanto a harmônica é sorridente. Podemos optar pela melhor disposição, mas, se não percebermos nossas atitudes subjacentes, como poderemos optar? 
IV - A atitude de lidar com os obstáculos 
Sempre existirão obstáculos em nosso caminho, por isso, é decisivo aprender a lidar com eles. Para isso, o primeiro passo consiste em sermos capazes de prevê-los, se não todos, pelo menos alguns deles. O fato de prevermos aumenta nossa força e diminui o impacto desagradável que uma oposição sempre nos causa. O segundo passo consiste em não batermos de frente contra as barreiras. É preciso respeitá-las e contorná-las. O terceiro passo consiste em sabermos quando agir contra aquilo que está opondo-se e quando devemos prudentemente nos retirar da situação. O último passo consiste em ficarmos preparados para jamais desistir totalmente de nosso intento, apoiados na convicção de que a perseverança faz milagres. “Se tivermos a força e a clareza necessárias, enfrentaremos com sabedoria os obstáculos que a vida nos impõe”. 
I - A atitude de manter-se aberto 
Estar fechado significa estar cheio de conceitos e rótulos de todo tipo, o que implica fazer julgamentos, sem parar. Esse fechamento tem como conseqüência direta uma contração afetiva, ou seja, gera barreiras emocionais que nos separam de tudo e de todos, tornando-nos verdadeiras ilhas humanas. Para que isso não aconteça, podemos nos inspirar na montanha que, por ser sólida e confiante, está aberta de todos os lados. 
II - A atitude de nutrição 
Todo ser humano tem necessidade de nutrir-se. Mas não necessitamos apenas do alimento físico: precisamos também alimentar nosso intelecto e nossa afetividade. Sabendo disso, devemos procurar nos alimentar bem em todos os sentidos. Para isso, precisamos aprender a ser cada vez mais inteligentes e a nos empenhar em desenvolver um coração cada vez mais afetivo. Para completar, vamos estimular os outros a fazerem o mesmo. 
III - A atitude de clareza 
É delicioso encontrar alguém que tenha clareza de espírito e de coração. Tudo que emana dessa pessoa faz bem para a nossa cabeça e o nosso coração. A receptividade dela nos acolhe e sua compreensão nos conforta. E o mais cativante é que ela nos mostra que podemos também ser totalmente claros. 
IV - A atitude de saber manter-se à distância 
Muitas vezes nos queixamos de alguém que nos fez algo desagradável. Geralmente essas coisas acontecem porque permitimos nos envolver com algumas pessoas de má qualidade ou com outras que são excelentes, mas confusas. Por isso, existe a arte de manter certo recuo, de manter certa distância em relação a algumas situações. Isso exige muita firmeza de nossa parte. Essa firmeza, porém, não pode descambar em má vontade e intolerância. Manter-se firme significa ter o controle interno dos nossos atos, enquanto, externamente, permanecemos tolerantes e generosos. “Mantenha-se firme em seu centro e o mundo à sua volta vai girar harmonicamente.

Texto: Paulo e Lauro Raful

quinta-feira, 15 de abril de 2010

ORI PARTE IV


Todo ori, embora criado bom, acha-se sujeito a mudanças. Vimos que feiticeiros, bruxas, homens maus e a própria conduta podem transformar negativamente um ori, sendo sinal dessa transformação uma cadeia interminável de infelicidades na vida de um homem a despeito de seus esforços para melhorar.
O ori, entidade parcialmente independente, considerado uma divindade em si próprio, é cultuado entre outras divindades, recebendo oferendas e orações. Quando ori inu está bem, todo o ser do homem está em boas condições.
Como foi dito, nossos ori espirituais são por eles mesmos subdivididos em dois elementos: Apari-inu e Ori apere – Apari-Inu representa o caráter (natureza), Ori Apere representa o destino.
Um indivíduo pode vir para a terra com um destino maravilhoso, mas se ele ou ela vem com mau caráter (natureza), a probabilidade de desempenho (cumprimento, execução) desse destino é severamente comprometida.
O destino também pode ser afetado, então, pelo caráter da própria pessoa. Um bom destino deve ser sustentado por um bom caráter.
Este é como uma divindade: se bem cultuado concede sua proteção. Assim, o destino humano pode ser arruinado pela ação do homem.

 
Iwa re laye yii ni yoo da o lejo, ou seja, – “seu caráter, na terra, proferirá sentença contra você”.

No odu de ogbeogunda, ifá diz:



“um pilão realiza três funções
Ele tritura inhame
Ele tritura índigo
Ele é usado como uma tranca atrás da porta

Foi feito um jogo adivinhatório para Oriseku, Ori-Elemere e Afuwape. Quando eles foram escolher seus destinos nos domínios de Ijala – Mopin. Foi solicitado para eles que realizassem rituais. Somente Afuwape realizou os rituais que foram solicitados. Ele, em consequência, tornou-se muito afortunado.
Os outros lamentaram, disseram que se soubessem onde Afuwape escolheria seu ori, eles teriam ido até lá para escolher os seus também. Afuwape respondeu que, embora seus ori fossem escolhidos no mesmo lugar, seus destinos é que diferiam.”



A questão que aí se apresenta é que somente Afuwape mostrou bom caráter. Respeitando sua crença e realizando seus sacrifícios, ele trouxe as bênçãos potenciais de seu destino para a efetiva realização. Seus amigos Oriseku e Ori-Elemere falharam em mostrar bom caráter pela recusa em realizar seus rituais e, por isso suas vidas sofreram as consequências.
O nome Ipin está igualmente associado à Orunmilá, conhecido como Eleri-Ipin – o senhor do destino e que é aquele que esteve presente no momento da criação, conhecendo todos os ori, assistindo o compromisso do homem com seu destino, os objetivos de cada um no momento de sua vinda para o aiye, o programa particular de desenvolvimento de cada ser humano e sua instrumentalização para o cumprimento desse programa.
Orunmilá conhece todos os destinos humanos e procura ajudar os homens a trilhar seus verdadeiros caminhos. Temos, assim, que um dos papeis mais importantes de ifá em relação ao homem, além de ser o intérprete da relação entre os orisa e o homem, é o de ser o intermediário entre cada um e o seu ori, entre cada homem e os desejos de seu ori. Apenas como registro, é preciso entender que esse mesmo papel orunmilá tem na relação com os demais orisa, sendo o intermediário entre cada um e o seu ori. E orunmilá, ele mesmo, consulta ifá!
Nos momentos de crise, a consulta ao oráculo de ifá permite acesso a instruções a respeito dos procedimentos desejáveis, sendo considerados bons procedimentos os que não entram em desacordo com os propósitos do ori.
O ser que cumpre integralmente seu Ipin-ori (destino do ori), amadurece para a morte e, recebendo os ritos fúnebres adequados, alcança a condição de ancestral ao passar do aiye para o orun.
Há a crença na existência de duas áreas ocupadas por espíritos dos mortos: Orun Rere – o bom “céu”, habitado pelas divindades e ancestrais, e Orun apaadi – o “céu” de muitas infelicidades, habitado pelos infelizes que sofreram má sorte e pelos maus, julgados pelo ser supremo, segundo o ser caráter. Estes últimos ficam condenados à solidão e ao esquecimento, sem direito a lembrança ou a aparecerem em sonhos e visões – morrem totalmente.
Orun Rere, por outro lado, é prazeiroso e sereno, vivendo os espíritos numa comunidade composta de parentes e amigos. Podem também permanecer junto aos familiares e intervir em suas atividades diárias, sendo-lhes permitido reencarnar em alguma criança nascida no âmbito familiar.
A respeito do ori, resta ainda lembrar que trata-se de uma divindade pessoal, a mais interessada de todas no bem estar de seu devoto. Se o ori de um homem não simpatiza com sua causa, aquilo que ele deseja não pode ser concedido nem por Olodumare, nem pelos orisa.
Da mesma forma se o caráter de um indivíduo é mau, sua escolha de destino pode não se realizar. Se nossa situação é realmente de um mau destino, e não é uma consequência de nosso caráter ou comportamento, então nosso ori-apere precisa ser apaziguado.
Oferendas prescritas ou rituais devem ser realizados para nos trazer de volta a um alinhamento saudável.
Considera-se vital para todo homem recorrer a Ifá, sistema divinatório de consulta a Orunmilá, a intervalos regulares para tomar conhecimento do que agrada ou desagrada o próprio ori. Enquanto intermediário entre a pessoa e as divindades (entre as quais o próprio ori)
Ifá não apenas informa sobre os desejos divinos, mas também conduz os sacrifícios ofertados às divindades para que estas possam cumprir seu papel: ajudar os ori a conduzirem as pessoas à realização do próprio destino.
Se, por outro lado, você ajuda os outros e dá felicidade a eles, sua vida será cheia, não só de riquezas, mas também de alegria e felicidade. No entanto, lembre-se, é decididamente muito mais fácil alterar seu destino do que sua natureza.

“por toda parte onde ori seja próspero, deixe-me estar incluído,
por toda parte onde ori seja fértil, deixe-me estar incluído,
por toda parte onde ori tenha todas as coisas boas da vida, deixe-me estar incluído.
Ori, coloque-me em boa situação na vida,
Que meus pés me conduzam para onde as coisas me sejam favoráveis.
Para onde Ifá está me levando eu nunca sei
jogaram para Assore no início de sua vida.
Se há qualquer condição melhor do que aquela em que estou no presente,
que possa meu ori não falhar em colocar-me nela.
Meu ori me ajude! Meu ori faça-me próspero!



Orin ori



Ori ka f’anjá ori ô ori ka f’anjá
ori ká f’anjá ori ô ori ka f’ajnjá
ori ká f’anjá alá umbó bàbá lá toloxé
agô ni kekerê kerê kê
agô ni kekerê kerê kê eru janjan
Ori ka f’anjá ori ô ori ka f’anjá
ori ká f’anjá ori ô ori ka f’ajnjá
ori ká f’anjá alá umbó bàbá la toloxé
ago ni kekerê kerê kê
agô ni kekerê kerê kê eru janjan



Orí ô ori apere
lé fibô didê lésé orixá
apere ô ori ô orí apere
lé fibô didê lésé orixá
Ori ô ori xê
wa dá meuá l’apere ô ori ô
ori xê e uá lese orixá
ori gbó apere
Orí gbó mó gbó tijí
orí gbó a pe re
ori gbó mó gbó tijí



Ori loman bó inxê
Ori loman



Iyemoja mi xekê mi ô
Iyemoja mi xekê mi rô
Orí ô iyemoja mi xekê mi ô

Ori mi ô xererê fun mi
ori mi ô xererê fun mi
ori oká unsanu oka
ori ejo unsanu ejô
Afomo opué
ori mi ô xererê fun mi
 O guégué oló guégué
o guégué ori umbó
 ori mi axé um o yê

Oni dôdô ori man i man yin
oni dôdô ori man i man yin
ibá ti kotá lobé fakalé
e a um ô loni á fi a jí



Omobá olokó ilé
omobá olokó ilé
omobé yi delê
omobé yi delê o yê
omobá olokó ilé



*** ori é o protetor do homem antes das divindades.”

Muitas vezes as pessoas nos julgam incapazes sem mesmo nos conhecerem, não levam em conta a força interior que nós temos. Ori foi uma prova disso, não o julgavam capaz de realizar uma tarefa pois possuía apenas uma cabeça, e isso é o que basta, já que é nela que está uma das armas mais poderosas que possuímos, nossa inteligência!

ORI PARTE III


Ao escolher sua cabeça e seguir em direção ao àiyé, o ser humano atravessa vários ambientes como de calor excessivo de desertos: muito frio como das zonas gélidas da terra: zonas onde tem de atravessar tempestades com ventos e chuvas fortes. E se as cabeças não tiverem sido bem confeccionadas elas irão se danificar e ficarão em péssimo estado ao chegarem ao àiyé.
Dependendo do estado em que cheguem, se a cabeça estiver boa àquela pessoa trabalhará, e tudo o que fizer será para si mesmo, podendo prosperar na vida, alcançando o sucesso e a fortuna. Se a cabeça estiver danificada, aquela pessoa trabalhará e tudo o que conseguir será para gastar com os reparos mo seu orí.
Quando ele não for muito danificado, os primeiro anos de vida dessa pessoa serão um pouco sacrificados, ela poderá passar por privações e dificuldades em virtude de não conseguir prosperar na vida, pois, tudo o que arrecadar irá para o conserto do seu orí. Depois que ele terminar os reparos necessários, o que ele fizer será para si próprio, é então quando ele começa a prosperar em sua vida no àiyé.
Outras pessoas têm orí tão danificados, que por mais que trabalhem na vida, jamais conseguirão consertar os danos do seu orí. E tudo o que fizerem na vida será para gastar com seu orí ruim. São aquelas pessoas que passam a vida toda vegetando, nunca conseguem fazer nem concluir as coisas, vivendo sempre na penúria e no aperto nunca possuindo nada de seu e não conseguindo serem felizes por mais que se esforcem, pois, tem um orí ruim.
Mas, acredita-se que esses consertos podem ser feitos através de oferendas – eborí – ebo orí, que ajudarão a restaurar aquele orí mais depressa, o que pode mudar um pouco essa predestinação. Não é porque a pessoa tem um bom orí que ela poderá ficar sentada esperando tudo de bom na vida.
Ela está predestinada ao sucesso em sua vida, mas, desde que trabalhe para isso. Seus caminhos estarão sempre abertos para alcançar seus objetivos, esforçando-se para isso.

Àjàlá orí, orí l’ewà, l’ewà, l’ewà.
Àjàlá orí, orí l’ewà, l’ewà, l’ewà.
Opé ènyin edùmarè, wá orí, e kú ó.
Opé ènyin edùmarè, wá orí, e kú ó.
E kú ó òrun, e kú ó òsùpá, e kú òjò, òjò bò ilè.
E kú ó òrun, e kú ó òsùpá, e kú òjò, òjò bò ilè.
Iré orí ó jí, ó jí ire orí,
Iré orí ó jí, ó jí ire orí.

Tradução
Àjàlá que molda cabeças, deixe este orì lindo, lindo, lindo.
Agradeço-te deus, venha para esta cabeça, eu te saúdo.
Eu saúdo o sol, eu saúdo a lua, eu saúdo a chuva, chuva que cai sobre a terra.
Vc será uma cabeça feliz, acorde feliz orí.


Ori o ori o
Ori mi o!
Se rere fun mi!


Tradução
Meu ori!
se alegre comigo!

Para termos idéia quanto a importância e precedência do ori em relação aos demais orisa, um itan do Odu Otura Meji, ao contar a história de um ori que se perdeu no caminho que o conduzia do orun para o aiye, relata: “… Ogun chamou ori e perguntou-lhe, “você não sabe que você é o mais velho entre os orisa? Que você é o líder dos orisa?’…”. Sem receio podemos dizer, “ori mi a ba bo ki a to bo orisa”, ou seja, “meu ori, que tem que ser cultuado antes que o orisa” e temos um oriki dedicado à ori que nos fala que ” ko si orisa ti da nigbe leyin ori eni”, significando, “… não existe um orisa que apóie mais o homem do que o seu próprio ori…”.



Quando encontramos uma pessoa que, apesar de enfrentar na vida uma série de dificuldades relacionadas a ações negativas ou maldade de outras pessoas, continua encontrando recursos internos, força interior extraordinária, que lhe permitam a sobrevivência e, inclusive, muitas vezes, mantém resultados adequados de realização na vida, podemos dizer, “eniyan ko fe ki eru fi aso, ori eni ni so ni”, ou seja, “as pessoas não querem que você sobreviva, mas o seu ori trabalha para você”, trazendo, essa expressão, um indicador muito importante de que um ori resistente e forte é capaz de cuidar do homem e garantir-lhe a sobrevivência social e as relações com a vida, apesar das dificuldades que ele enfrente.
Esta é a razão pela qual o eborí, forma de louvação e fortalecimento do ori utilizada em nossa religião, é utilizado muitas vezes, precedendo ou, até, substituindo um ebo. Isso se faz para que a pessoa encontre recursos internos adequados, esta força interior de que falamos, seja à adequação ou ajustamento de suas condições frente às situações enfrentadas, seja quanto ao fortalecimento de suas reservas de energia e consequente integração com suas fontes de vitalidade.
É importante dizer que é o ori que nos individualiza e, por conseqüência, nos diferencia dos demais habitantes do mundo. Essa diferenciação é de natureza interna e nada no plano das aparências físicas nos permite qualquer referencial de identificação dessas diferenças. . Sinalizando essa condição, talvez uma das maiores lições que possamos receber com respeito a ori possa ser extraída do itan odu osa meji, que reproduzimos a seguir e que é a resposta que foi dada por ifá para mobowu, esposa de ogun, quando ela foi lhe consultar:

“ori buruku ki i wu tuulu.
Aki i da ese asiweree mo loju-ona.
A ki i m’ ori oloye lawujo.
dia fun mobowu ti i se obinrin ogun.
Ori ti o joba lola, enikan o mo ki toko-taya o mo pe’raa won ni were mo.
Ori ti o joba lola, enikan o mo.”

Tradução
“uma pessoa de mau ori não nasce com a cabeça diferente das outras.
Ninguém consegue distinguir os passos do louco na rua.
Uma pessoa que é líder não é diferente e também é difícil de ser reconhecida.

É o que foi dito à Mobowu, esposa de Ogun, que foi consultar Ifá. Da mesma forma que o ori de Afuwape sobreviveu, o seu sobreviverá. Ele será favorável a você. Tudo de que você precisa, tudo o que você quer para a sua vida, é ao seu ori que você deverá pedir. É o ori do homem que ouve o seu sofrimento…”

A espécie de material com o qual são modelados os ori individuais indicará que tipo de trabalho é mais conveniente, proporcionando satisfação e permitindo a cada um alcançar prosperidade. Indica também as interdições – ewo – aquilo que lhe é proibido comer, por causa do elemento com o qual o seu ori foi modelado”.
Ou seja, os ewo representam a proibição de que o indivíduo “coma” alimentos que contenham a mesma “matéria” da qual foi retirada uma porção para modelagem do seu ori. A não observância da interdição traduz-se por uma disfunção energética de consequências profundamente negativas para o equilíbrio do indivíduo, seja do ponto de vista orgânico, seja do ponto de vista do mundo emocional, seja quanto as suas condições de realização do “programa” particular de existência.
Ori., qual o seu papel na vida do homem? O conceito de ori está intimamente ligado ao conceito de destino pessoal e à instrumentalização do homem para a realização deste destino.
Um itan do Odu Ogunda Meji, nos dá a exata dimensão da matéria quando nos relata sobre a correspondência entre o ori e o homem e a relação de causa e efeito existente nesta correspondência:

“… ori, eu te saúdo!”.
Aquele que é sábio,
Foi feito sábio pelo próprio ori.
Aquele que é tolo,
Foi feito mais tolo que um pedaço de inhame,
Pelo próprio ori…”



No Odu Ogbeyonu (Ogbe Ogunda) vamos encontrar ainda, “… quando acordo pela manhã coloco minha mão no ori. Ori é fonte de sorte. Ori é ori!…”.
É um oriki dedicado à Ori, mostrando o papel que Ori tem na vida de cada pessoa quanto as suas relações interpessoais, suas relações com as outras pessoas, e as suas condições de realização e progresso em todos os empreendimentos da vida, nos diz:

“ori mi
Mo ke pe o o
Ori mi
A pe je
Ori mi
Wa je mi o
Ki ndi olowo o
Ki ndi olola
Ki ndi eni a pe sin
Laye



O, ori mi
Lori a jiki
Ori mi lori a ji yo mo laye”

Tradução



Meu ori
Eu grito chamando por você
Meu ori,
Me responda
Meu ori,
Venha me atender
Para que eu seja uma pessoa rica e próspera
Para que eu seja uma pessoa a quem todos respeitem
Oh, meu ori!
A ser louvado pela manhã,
Que todos encontrem alegria comigo”

Toda existência no universo da criação se processa em dois planos: o mundo visível, o aiye, universo concreto que habitamos, e o mundo invisível, orun, onde habitam os seres sobrenaturais e os “duplos” de tudo o que se encontra manifestado no aiye. Não são, como é possível pensar, mundos independentes ou rigidamente separados. Na realidade podemos afirmar que o aiye é, antes de mais nada, uma “projeção” da realidade essencial que tem existência e se processa no orun.
Para o negro-africano o visível constitui manifestação do invisível. Para além das aparências encontra-se a realidade, o sentido, o ser que através das aparências se manifesta. Sob toda manifestação viva reside uma força vital: de deus a um grão de areia, o universo africano é sem costura. (Erny, 1968:19) universo de correspondências, analogias e interações, no qual o homem e todos os demais seres constituem uma única rede de forças.”
É necessário entender, assim, que aiye e orun constituem uma unidade e, enquanto expressões de dois níveis de existência, são inseparáveis e complementares. Essa unidade é simbolizada pelo igba-odu, cabaça formada de duas metades unidas onde a parte inferior representa o aiye e a parte superior representa o orun. No interior, os “elementos indispensáveis à existência individualizada”. Poderia ser representada por uma figura e sua imagem refletida no espelho – há plena identidade entre elas, uma é apenas a imagem invertida da outra.
Podemos dizer nessa figuração que o aiye é a imagem refletida do orun. Essa analogia provavelmente explica a situação conhecida de que os odu, quando vieram do orun para o aiye, tiveram sua ordem de precedência invertida. Ou seja, muito embora no aiye considere-se ejiogbe meji como o mais antigo dos odu, todo babalawo saúda ofun meji, ou orangun meji como é também conhecido, em sua realeza, dizendo: Eepa odu!, louvando assim sua antiguidade e sua precedência efetiva.



Temos assim que toda existência no aiye reflete uma realidade anterior existente no orun. A existência no aiye implica em processar-se uma “modelagem” anterior no orun, a partir da qual porções de matérias-massas que constituem a base da existência genérica são tomadas em fragmentos particulares e vão constituir a manifestação dessa existência em forma individualizada no aiye.
Esses elementos matrizes possuem, por consequência, dupla existência: uma parcela presente no orun e a outra parcela dando vitalidade ou formação às diferentes partes que formam a “realidade” individualizada de vida. A esses fragmentos particulares retirados da massa genitora chamamos ipori e é ele, ipori, que determinará o orisa que cada indivíduo cultuará no aiye, condicionando também sua instrumentalização particular na relação com a vida e o repertório possível de escolhas que possa realizar.
Podemos perceber que a compreensão sobre o papel que ori desempenha na vida de cada homem está intimamente relacionado à crença na predestinação – na aceitação de que o sucesso ou o insucesso de um homem depende em larga escala do destino pessoal que ele traz na vinda do orun para o aiye. A esse destino pessoal chamamos kadara ou ipin e é entendido que o homem o recebe no mesmo momento em que escolhe livremente o ori com que vai vir para a terra.
Ori desempenha um papel importante para os seguidores de IFÁ. Nele acredita-se que escolhemos nossos próprios destinos. E nós o fazemos mediante os auspícios do orisa Ijala Mopim. A esfera de ação de Ijala é junto a Olodumare é ele que sanciona as escolhas de destino que fazemos. Essas escolhas são documentadas pelas divindades que chamamos de Aludundun. Um verso de ifá explica esta questão: “



“você disse que foi apanhar o seu ori.
Você sabia onde Afuwape apanhou o seu ori?
Você poderia ter ido lá para apanhar o seu.
Nós pegamos nossos ori nos domínios de ijala,
Assim somente nossos destinos diferem”

Ijala é responsável pela modelação da cabeça humana, e acredita-se que o ori e o odu – signo regente de seu destino que escolhemos, determina nossa fortuna ou atribulações na vida, como foi dito. Ijala, embora notável em sua habilidade, não é muito responsável e, por isso, muitas vezes modela cabeças defeituosas: pode esquecer de colocar alguns acabamentos ou detalhes desnecessários, como pode, ao levá-las ao forno para queimar, deixá-las por um tempo demasiado ou insuficiente.



Tais cabeças tornam-se assim, potencialmente fracas, incapazes de empreender a longa jornada para a terra, sem prejuízos. Se, desafortunadamente, um homem escolhe uma dessas cabeças mal modeladas, estará destinando a fracassar na vida.



Durante sua jornada para a terra, a cabeça que permaneceu por tempo insuficiente ou demasiado no forno, poderá não resistir à ação de uma chuva forte e chegará mais danificada ainda. Todo o esforço empreendido para obter sucesso na vida terrena terá grande parte de seus efeitos desviada para reparar tais estragos.

Pelo contrário, se um homem tem a sorte de escolher uma das cabeças realmente boas, tornar-se próspero e bem sucedido na terra, uma vez que sua cabeça chega intacta e seus esforços redundam em construção real de tudo aquilo que se proponha a realizar.

O trabalho árduo trará, ao homem afortunado em sua escolha, excelentes resultados, já que nada é necessário dispender para reparar a própria cabeça. Assim, para usufruir o sucesso potencial que a escolha de um bom ori acarreta, o homem deve trabalhar arduamente. Aqueles, entretanto que escolheram um mau ori têm poucas esperanças de progresso, ainda que passem o tempo todo se esforçando.



Sendo estes os pressupostos, retomamos as perguntas: como saber se a escolha do próprio ori foi boa ou má? Pode um homem conhecer as potencialidades da própria cabeça ou da cabeça de outrem?



O jogo divinatório de Ifá possibilita que a pessoa tome conhecimento dos desígnios do próprio ori, saiba a respeito do orisa ou irunmale que deve ser cultuado e conheça seus ewo – proibições quanto ao consumo de alimentos, uso de cores e condutas morais
Muitas referências são feitas às relações entre ori e o destino pessoal. O destino descrito como Ipin Ori – a sina do ori – pode ser dividido em três partes: Akunleyan, Akunlegba e Ayanmo.
Akunleyan é o pedido que você fez no domínio de ijala – o que você gostaria especificamente durante seu período de vida na terra: o número de anos que você desejaria passar na terra, os tipos de sucesso que você espera obter, os tipos de parentes que você deseja.
Akunlegba são aquelas coisas dadas a um indivíduo para ajudá-lo a realizar esses desejos. Por exemplo: uma criança que deseja morrer na infância pode nascer durante uma epidemia para garantir a morte dele ou dela.
Ayanmo é aquela parte do nosso destino que não pode ser mudada: nosso gênero (sexo) ou a família em que nascemos, por exemplo.

Ambos, Akunleyan e Akunlegba podem ser alterados ou modificados quer para bom ou para mau, dependendo das circunstâncias.

Assim o destino descrito como Ipin Ori – a sina do ori pode sofrer alterações em decorrência da ação de pessoas más chamadas como Araye – filhos do mundo, também chamadas Aiye – o mundo ou ainda, Elenini – implacáveis (amargos, sádicos, inexoráveis) inimigos das pessoas.

Entre estes encontram-se as àjé – bruxas, os oso – feiticeiros, os envenenadores e todos aqueles que se dedicam a práticas malignas com intuito de estragar qualquer oportunidade de sucesso humano.

Sacrifício e ritual podem ajudar a melhorar as condições desfavoráveis que podem ter resultados destas maquinações maléficas imprevisíveis.

continua........