O nascimento de um rio não acontece quando a água brota do solo e segue
pela superfície da terra. Antes disso, uma seqüência de fatos desencadearam e
influenciaram esse processo. Existe por traz do nascimento de um rio um enorme
fundamento.
Primeiro Olorum através do sol aquece a água dos lagos e oceanos,
Oxumarê com seu arco-íris, leva a água em forma de vapor para as nuvens que
ficam carregadas, Xangô anuncia com seu trovão, que Iansã está juntando ás
nuvens com o vento mágico que surge quando ela balança suas saias, quando as
nuvens estão todas arrumadas, Xangô lança o Edun-Ará (pedra de raio) sobre a
terra avisando a Odudúa que prepare seu ventre, pois a chuva irá cair, Ossãe
pendura suas cabaças em Iroko para conter o líquido maravilhoso da vida.
O momento sublime acontece, numa sintonia perfeita de toda a natureza,
a chuva cai, trazendo consigo toda força do céu e alimentando toda a terra,
Odudúa absorve todo o líquido e cria um enorme lago no interior da terra, seu
ventre, quando a água acumulada se enche de força mineral (axé), Odudúa abre
seu ventre e dá vida à majestosa Oxum, que brotará do solo e deslizará sobre
seu leito levando vida por toda a superfície da terra, mais a frente água
se acumulará de novo e tudo começará novamente.
Assim como a vida de Oxum tem o seu segredo, nós negros e negras
também temos o nosso. A nossa história não começa em 1500 com a chegada dos
portugueses no Brasil, antes disso, uma seqüência de fatos marcaram e até hoje
influenciam nossas vidas, existe por traz do aparecimento do povo negro no
Brasil um enorme fundamento.
Não somos descendentes de escravos, como dizem os livros escolares,
somos descendentes de civilizações africanas, de reinados fortes e poderosos,
somos descendentes de reis, rainhas, príncipes e princesas, somos parentes de
homens e mulheres que desenvolveram a escrita, a astrologia, a numerologia, às
ciências e as pirâmides. Somos fruto de um povo que desenvolveu as técnicas
agrícolas e que domina a medicina alternativa, somos fruto de um povo que
conhece as folhas e como despertar o poder delas, nosso povo sabe estar no
Aiyê(Terra)sem perder a essência do Orum (Céu).
Fonte: Jornal Folha
Popular, Ed. nº.11, Nov de 2006). Matéria de Ricardo Andrade, publicado no Jornal Folha Popular
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