sábado, 30 de abril de 2011

AYRA




Airá era um Orixá no fundamento de Xangô, Airá era considerado um de seus servos de confiança e segundo uma de suas lendas, Airá, tentou instaurar um atrito entre Oxalá e Xangô, graças a isso Airá deve ser tratado de forma diferente de Xangô e seu assentamento deve ficar na casa de Oxalá. Por essa rivalidade com Xangô, não se deve coloca-los juntos jamais na mesma casa nem podendo Airá ser posto em cima do pilão de duas bocas, pois provoca a ira de Xangô. Sua cor é o branco e seus ornamentos são prateados.

 Airá é um Orixá relacionado a família do raio mas é relacionado ao vento, seu nome pode ser traduzido como redemoinho. Redemoinho é o fenômeno que mais se assemelha a um furacão em território Africano. Airá então pode ser louvado como a divindade que rege o encontro dos ventos.
Em território africano, não existe registro ou relatos de pessoas regidas ou iniciadas para ele, onde ele é cultuado, o culto predominante é o de Nanã e de Obaluaiê, já que Savé é uma região que fica em território Jeje.
Pouco se sabe sobre o nascimento ou surgimento de Airá e por esta razão muitos atribuem sua filiação à Iemanjá e a Oraniã, assim como Xangô e Aganjú.
No Brasil, Airá é visto, erroneamente, como uma qualidade de Xangô. Airá é visto como uma face mais amena e pacífica de Xangô. Hoje, com a falta de conhecimento, muitos zeladores preferem iniciar uma pessoas de Airá do que de Xangô, na realidade está cada vez mais difícil encontrarmos filhos de Xangô, em sua grande maioria, os filhos de Xangô estão sendo iniciados em outros Orixás.
 Ao contrário de Xangô, Airá não é um Orixá rei nem possui o carácter, punitivo e colérico. Este caráter mais ameno, pode ser evidenciado em uma de suas cantigas que diz:
 "A chuva de Airá apenas limpa e faz barulho como um tambor".
Airá zela pela paz e pela justiça de forma incondicional, ao contrário de Oxalá que representa a paz, Airá a estabelece e possui uma ação  muito mais direta em sua imposição, Airá pode ser qualificado como um sentinela de Oxalá, ou melhor, de Oxalufã e seria ele, Airá, quem estabelece sua vontade.
Apesar de Ayra ser considerado por muitos como uma qualidade ou caminho de Sango, não é. Ayra era, como contam alguns itans, um dos súditos de Sango, talvez um de seus escravos, que a pedido do rei, acompanhou Obatala até sua casa após uma visita às terras de Sango. Obatala, apreciando muito a companhia de Ayra, requisitou que ficasse para sempre com ele. Ayra passa a viver com Obatala se adaptando aos gostos do Pai. Diferentemente de Sango, Ayra não come azeite de dende e veste-se totalmente de branco. Três caminhos de Ayra são conhecidos, Igbona, Intile e Adja Osi, sendo o primeiro mais ligado a Sango e tem como símbolo as fogueiras.
Ayra é o verdadeiro Oba Koso, tendo ganhado este posto em certa ocasião, quando Sango o pede para buscar a coroa que estava guardada na casa dos mortos por Oya, que temia por seu amado em ocupar o trono de Koso. Para entrar na casa dos mortos, Ayra se utiliza do Agere, que consistia em uma vasilha contendo bolas de algodão embebidas com dendê em chamas que Ayra tirava uma a uma e as colocava na boca, com isso ele conseguia enxergar e localizar Ade Baiyani, que era o nome desta coroa, ela só podia ser carregada sobre a cabeça, e ela escolhia em que cabeça queria ficar, Ayra após levar Ade Baiyani até Sango, este não consegue suporta-la sobre sua cabeça, e a devolve a Ayra, neste momento o povo de Koso ovaciona Ayra como o novo rei. Cantando:

Oba Koso Ayra e
Ayra inan
Oba Koso Ayra e
Ayra inan

Títulos de Airá

Intilè - veste branco e é ligado a Yemanja Sobà e Osun Karé. Foi ele quem carregou Oxàlúfan nos ombros e tentou coloca-lo contra Xàngó , dizendo que ele teria passado os sete anos na prisão por culpa de seu filho, Xàngó. Por isto existe uma kizila entre Ayrà e Xàngó , não podendo Ayrà ser posto em cima do pilão , pois provoca a ira de Oxàlúfan. Come com Exù.  É o filho rebelde de Obatalá. Ayrá Intilé foi um filho muito difícil, causando dissabores a Obatalá. 
Um dia, Obatalá juntou-se a Oduduwa e ambos decidiram pregar uma reprimenda em Intilé. Estava Intilé na casa de uma de suas amantes, quando os dois velhos passaram à porta e levaram seu cavalo branco. Ayrá Intilé percebeu o roubo e sabedor que dois velhos o haviam levado seu cavalo predileto, saiu no encalço. Na perseguição gritava e esbravejava quando encontrou Obatalá. O velho não se fez de rogado, gritou com Intilé, exigindo que se prostrasse diante dele e pedisse sua benção. Pela primeira vez Airá Intilé havia se submetido a alguém. Airá tinha sempre ao pescoço colares de contas vermelhas. Foi então que Obatalá desfez os colares de Airá Intilé e alternou as contas encarnadas com as contas brancas de seus próprios colares. 
Obatalá entregou a Intilé seu novo colar, vermelho e branco. Daquele dia em diante, toda terra saberia que ele era seu filho. E para terminar o mito, Obatalá fez com que Airá Intilé o levasse de volta a seu palácio pelo rio, carregando-o em suas costas. Neste caminho apresenta características que dá a seus filhos um ar altivo e de sabedoria, prepotente, equilibrado, intelectual, severo, moralista, decidido.


Igbóna - É um título de Airá que significa  floresta de fogo, faz referência ao ato da fogueira  em que Airà a acendia em reverência  a Xangô. É considerado o pai do fogo, tanto que na maioria dos terreiros, no mês de junho de cada ano, acontece a fogueira de Airá, rito em que Ibonã dança acompanhado de Iansã, pisando as brasas incandescentes. Conta o mito que Ibonã foi criado por Dadá, que o mimava em tudo o que podia. Não havia um só desejo de Ibonã que Dadá não realizasse. Um dia Dadá surpreendeu Ibonã brincando com as brasas do fogão, que não lhe causavam nenhum dano. Desde então, em todas as festas do povoado, lá estava Airá Ibonã, sempre acompanhado de Iansã, dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras. Neste caminho apresenta características onde seus filhos têm espírito jovem, perigoso, violento, intolerante, mas são brincalhões, alegres, gostam de dançar e cantar.



Adjàosì - É o eterno companheiro de Oxaguiã. Um dia, passando Oxaguiã pelas terras onde vivia Airá Osi, despertou no jovem grande entusiasmo por seu porte de guerreiro e vencedor de batalhas. Sem que Oxaguiã se desse conta, Airá trocou suas vestes vermelhas pelas brancas dos guerreiros de Oxaguiã, misturando-se aos soldados do rei de Ejibô. No caminho encontraram inimigos ao que Osi, medroso que era, escondeu-se atrás de uma grande pedra. Oxaguiã observava a disputa do alto de um monte, esperando o momento certo de entrar nela, mas, para sua surpresa, percebeu que um de seus soldados estava de cócoras, escondido atrás da pedra. Sorrateiramente Oxaguiã interpelou seu soldado e para sua surpresa deparou-se com Airá que chorava de medo, implorando seu perdão, por haver enganado o grande guerreiro branco. Oxaguiã, por sua bondade e sabedoria, compadeceu-se de Airá Osi. No entanto, como punição pela mentira de Airá, decidiu que naquele mesmo dia o jovem voltaria à sua terra natal vestindo-se de branco e nunca mais usaria o escarlate, devendo dedicar-se a arte da guerra para poder seguir com ele em suas eternas batalhas. Seus filhos  são considerados jovens guerreiros, lutam pelo que querem, mas as vezes deixam-se enganar pela impetuosidade. São calmos, não tidos a trabalhos intelectuais, são amorosos, alegres e sentimentais.


Módè, Mófè ou Álàmódè - É um título de Ayrá.  É considerado o pai das águas quentes, pouco difundido nos terreiros, este Aiyra vem acompanhado de Osun Iyponda. Conta o mito que Modé vestiu-se de Osun para ser confundido durante uma busca para prende-lo, sendo assim, geralmente ele é cultuado sendo "Iyagba", seus animais são fêmeas e seus filhos geralmente mais delicados, ardilosos que choram com facilidade para chegarem ao seu alcance.






Lojó - Título que faz referência à chuva.









Óbómìn, Bómìn ou Ygbómìn -  mais um título de Airá. É bom, conselheiro, dono da verdade, reina nas águas junto com Oxun foi ele que Oxalá transformou em seu primeiro ministro. Não faz nada sem perguntar a Oxalá.


Orégedé – Muito guerreiro ele também lutou contra Ogun.

Etinjà Depende de Ogun para caminhar, é guerreiro e cruel.

Normalmente confundido com Xangô, no Brasil, na verdade é deve ser considerado como uma divindade individual. Pouco se sabe sobre seu culto ou seus ritos, desta forma, passou a ser enxergado como uma qualidade de Xangô. Airá não é de origem Iorubá e seu culto está restrito à região de savé em território Jeje, talvez por esta razão seu culto não tenha expressividade já que nesta região os cultos predominantes são os de Oxumarê, Obaluaiê e de Nanã. É incrível o quanto no Brasil as pessoas transmitem abominações. Alguns sacerdotes sem conhecimento chegam a afirmar que Airá seria irmão de Xangô, quando na verdade não existe nada que fundamente esta afirmação. Não se sabe ao certo sua ascendência por isso Airá é considerado como filho de Iemanjá e Oraniã, assim como Xangô e Aganjú. Em um contesto geral, Airá é considerado como um Orixá Funfun, ou seja, um Orixá que veste branco. É considerado uma divindade de caráter mais passivo, seus fundamentos são relacionados aos elementos água e ar, mas no Brasil, devido a associação com Xangô lhe atribuíram ligação ao elemento fogo. Airá possui uma ligação muito maior com Oxalá do que com Xangô e na verdade tudo o que for oferecido a ele não pode conter o sal, o dendê e jamais deve ter seus assentamentos colocados sobre o pilão. Isso acarreta a cólera dos Orixás. Suas comidas votivas não são temperadas com dendê, e sim com banha de ori africana. Come ebô, ejá e quiabo.
Segundo um mito, criado no Brasil, Oxalá permaneceu injustamente preso durante sete anos no reino de seu filho, Xangô, sem que este soubesse do fato. Grandes calamidades ocorreram em todo o reino devido a essa injustiça e quando Xangô finalmente descobriu o que havia acontecido com o próprio pai, resgatou-o da prisão e ordenou que fossem organizadas grandes festas em todo o reino, em sua homenagem.
No entanto, Oxalá estava muito alquebrado e entristecido. Apesar de toda a atenção que recebeu, a única coisa que desejava era retornar ao seu próprio reino, em Ifé, onde sua esposa Iemanjá o aguardava. Xangô não podia acompanhá-lo e pediu que Airá o fizesse em seu lugar.
Foi assim que Airá tornou-se servo de Oxalá, pois a viagem foi muito longa já que Oxalá andava muito devagar (conta-se também que Airá carregava Oxalá nas costas) pelo fato de ainda estar se recuperando dos ferimentos que adquirira durante os sete anos de prisão.
Durante o dia, eles caminhavam. À noite, Oxalá sentia frio e precisava descansar, assim, Airá passava longas horas contando-lhe histórias do povo de Oyó.
Observação: No Brasil, devido aos festejos de São João, criou-se uma tradição de se acender uma fogueira em homenagem a Xangô e a Airá. Na realidade esse ato não existe na África isso foi absorvido dos festejos de São João. A cerimônia que ocorre na África é o Ajerê de Xangô, cerimônia em que o iniciado de Xangô em Oyó carrega um jarro com inúneros orifícios e carregado com fogo sobre sua cabeça. Este ato é representado pelo próprio machado de Xangô.

Ajerê



AGANJU II - MAIS UMA VERSÃO



OBA AGANJU

Oba Aganju o sexto Alâfin ou Rei de Ọyọ. Como Şàngó não deixou descendentes diretos, já que seus filhos foram todos mortos graças a experiência fatídica que ele próprio promoveu. Aganju o filho de Ajaka subiu ao trono sem qualquer tipo de disputa.
O reinado dele se mostrou longo e muito próspero. Ele tinha uma habilidade toda especial para domesticar animais selvagens e répteis venenosos, alguns dos quais podiam ser vistos rastejando sobre seu corpo. Ele também possuía em sua casa um leopardo dócil.
Possuía um bom gosto apurado. Embelezou seu palácio acrescentando praças na parte da frente e de trás, com filas de postes de bronze. E ele que deu inicio ao costume de decorar o palácio com tapeçarias.
Perto do fim de seu reinado travou guerra com um homônimo seu, Aganju o Onisambo, por recusar-lhe a mão de sua filha Iyayun. Nesta guerra, quatro chefes foram capturados e suas cidades destruídas, a saber: Onisambo e seus aliados Onitede, Onimeri e Alagbòna. E assim garantiu a noiva à força.
Mas seu reinado foi ofuscado por um grande problema familiar que se transformou em tragédia. Lubẹgò seu único filho foi descoberto tendo relações ilícitas com a sua amada Iyayun, por conta disso muitos príncipes e pessoas comuns perderam suas vidas. Aganju totalmente enfurecido sentenciou sobre seu único filho penalidade extrema da lei, que foi rigorosamente realizada. Com a morte de seu filho o rei foi tomado de grande tristeza, ele morreu não muito tempo depois, mesmo antes do nascimento de um sucessor para o trono.
Mas Iyayun carregava em seu ventre o filho de Lubegò, a única esperança de um sucessor direto. Em conseqüência disso frequentemente eram oferecidos sacrifícios no túmulo de Aganju com a intenção que ele deixasse Iyayun conceber este filho que seria a única forma de seu nome jamais ser esquecido, e de sua dinastia não terminar. E Aganju então, permitiu que Iyayun desse à luz a este filho, toda a população ficou feliz. Esta criança foi chamada de Kori, e até ele ter idade suficiente para subir ao trono, Iyayun foi declarada regente. Ela usou a coroa, vestiu os roupões reais além de ser investida com o Ejigba e o Opa ileke e outras insígnias reais, e governou o reino como um homem até que seu filho completasse a idade para ser o novo rei.
No Brasil é cultuado como sendo uma qualidade de Şàngó, mas na verdade é seu sobrinho.
E assim mais um Rei se transforma em Oríşa; inspirando as multiformes de Deuses da Justiça.

Texto publicado por Pai Wilson d'Oxum (Bambawara) onde alguns casos aqui relatados foi contado por seu pai Dorode Oba Dode, além de ter feito pesquisas nos livros: The History of Yorubas de Samuel Johnson, Dicionário Antológico da Cultura Afro-Brasileira de Eduardo Fonseca Júnior.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

AGANJU


Aganju é o Orixá da terra inculta, Senhor do Vulcão, o Senhor das Cavernas, O Barqueiro Divino.

Aganju é um doador de força e de saúde. Aganju é o transportador da carga (os ombros e as costas pertencem a Aganju) é o defensor dos menos favorecidos, oprimidos e escravizados. Há quem diga que Aganju não é um Orisa, mas sim uma força de vida que supera os obstáculos e faz o impossível. Aganju fornece acesso ao reino do desconhecido, as profundezas do qual o mundo foi e é criado, (Okun, “A obscuridade”, o reino de Olokun). Aganju é o governnte que proporciona acesso a todas as áreas inexploradas, inacessiveis. Aganju é o governante que proporciona acesso a climas hostis e potencialmente hostil à existência humana deserto, floresta, Ártico, Antártico, a altura das montanhas, grutas, cavernas, abismos,minas, etc. Aganju pode ser traduzido como: Agan = estéril, ju = deserto, ou mais precisamente como: local desconhecido, inexplorado, desabitado. Todos os lugares onde só os mais cordiais e / ou sobrevivem pessoas melhor preparadas. Aganju se encontra nas profundezas do oceano, nas profundezas do espaço, na energia que não foi explorada, na compreensão da mente e da emoção. Aganju é o guardião o canal através do qual profundidades inexplicáveis das emoções humanas são vividas e expressas, (boca e garganta são Aganju). Obscuro, intestino com distúrbio doloroso, absurdo e irracional, medos paralisantes são do ambito de Aganju, é através de Aganju que aprendemos a super nossos medos. Quentes emoções perigosas, mortal, incontrolados e incontroláveis é Aganju; e por meio de Aganju que aprendemos a canalizar e redirecioná-las. Aganju tem uma estreita relação com Oxun. Eles estão ligados de diversos modos: pela emoção Aganju é a profundidade da emoção em estado bruto, encarnação grosseiro rude. Enquanto Oxun é a profundidade da emoção em sua comovente, doce / amargo doce encarnação. Aganju explora, supera e vence o rio acima, Osun promove o comércio e as relações sociais, pelos mesmos meios. Aganju supera barreiras e obstáculos para ver o que está do outro lado. Osun planta a cultura e traz à luz da civilização. Aganju é o proprietário do rio. E o deu para Osun. Houve um tempo em que Osun não tinha lugar para viver. Nenhum outro ORISA lhe ajudaria. Aganju viu que Osun necessitava de ajuda. Então ele deu o rio a ela como lar. Aganju é a abertura a novas possibilidades inexploradas, inesperado. Aganju é a abertura do todas as riquezas do mundo. As riquezas minerais de minas terrestres e a mineração de todos os tipos pertencem a Aganju (mas é através da tecnologia de Ogun que a humanidade pode acessá-la e buscá-la). Aganju é o desafio, a luta de impedir, e desejo que leva para superá-los. Aganju é primordial e não - o homem do fogo de todos os tipos, o Sol e outras estrelas e cometas. Um dos nomes do louvor a Aganju é Irawo, que pode ser traduzido como uma estrela. O fogo nas entranhas da terra, geotérmica, gêiseres, fontes termais, etc. Vulcões (Oke onine, Montanhas de Fogo) é um símbolo importante de Aganju.
Vulcões, conforme definido pelo World Book Enciclopédia são aberturas "terra superfície através da qual os gases de lava quente e fragmentos de rocha explodem.
¹....Os mitos o descrevem como “O Gigante entre os Òrìsà... seria filho de Oro Iná divindade que em algumas regiões esta considerado como uma divindade masculina e em outras femininas, cujo o qual habita as câmera de magmas, situadas no interior da crosta terrestre... Os antigos o descrevem como “O Temível entre todos”... Divindade de caráter forte, tempestuoso, colérico e belicoso... As forças da natureza que lhe pertencem são representações de sua tremenda energia, como a potência dos rios que dividem territórios, a lava vulcânica que percorre a crosta terrestre, os terremotos e o impulso que faz a Terra girar em torno de seu eixo... Recebe o título de Òkèrè ao tornar-se esposo de Yemoja... Aganjú representando os raios solares, Olókun as águas salgadas e Olósa as águas doces, celebram um pacto entre eles, em manter o equilíbrio da atmosfera do planeta, afim de que seja possível o ciclo vital de todos os seres... Aganjú foi o quarto Aláàfin Óyó, embora existam mitos que o descrevem que ele reinou em Sakí, cidade vizinha de Ìséyìn a noroeste de Òyó... O reinado de Aganjú foi longo e próspero... Ele tinha o dom de domar animais selvagens e as serpentes venenosas... Dentro de seu palácio mantinha um Ekún – Leopardo, seu animal de estimação, sobretudo o simbolo da coragem, que costumara encostar seus pés como se fosse uma esteira, daí recebendo o epíteto de Ekùn Olóju Iná – Leopardo dos olhos de fogo e Ekún f'eninjú tànná – Leopardo de olhos fulgurantes... Foi o primeiro a agregar o patio na parte da frente de detrás do palácio para a celebração de ritos... Embelezou todo o palácio, ornamentou postes esculpidos em bronze, assim originando o costume de colocar colgantes (pingentes) como adornos de acordo com a ocasião festiva, contudo sendo um soberano de gostos muitos refinados...(¹parte do texto escrito por Baba Guido)
Foi o terceiro orixá designado para vir para a Terra, Aganju é uma divindade primordial. Aganju é a força que, como o Sol, que é um de seus símbolos, é essencial para o crescimento, assim como um cultivador das civilizações. Como o vulcão com que é associado, ele forma a base sobre a qual as sociedades são construídas. Nos mitos, Aganju é às vezes tratado como uma divindade primordial, associado à terra (em oposição à água) e às montanhas e vulcões. Do consórcio de Obatalá, o céu, com sua esposa, a terra, nasceram dois filhos: Aganju, a terra firme, e Iemanjá, as águas. Da união com Aganju, Iemanjá deu à luz a Orungã, o ar, o espaço entre a terra e o céu. AGANJU NÃO É UM SANGÒ, MAS FOI INCLUSO AOS CULTOS NO CANDOMBLÉ COMO UM XANGÔ, ELE É O DEUS DOS VULCÕES E MONTANHAS E É UM ORIXÁ PRESENTE NA CRIAÇÃO DA TERRA, é filho de Sogba, foi rei de Ijesa, foi esse orixá que se casou com Òsún. No Brasil, Aganju, ou Xangô Aganju é considerado uma “qualidade” de Xangô enquanto dono das leis e das escritas e padroeiro dos intelectuais, em contraste com Xangô Agodô (o Xangô mais velho, ou o Xangô propriamente dito), que é principalmente o Orixá da justiça e do equilíbrio. Aganju come bode castrado, diferentemente de Xango que come carneiro. Aganju tem forte fundamento com Ogum. Sua veste é toda azul com vermelho. Carrega na mão um machado e na outra uma espada. Come amalá com gotas de dendê e azeite doce, ajabo normal. Primeiro se dá comida a Xangô e depois a Ogum.

Mais uma versão para Aganju:
Tem perna de pau e é casado com YEMONJA. É o filho mais novo de ORANNIAN e o preferido, herdou sua fortuna. É o mais cruel é aquêle que leva o coração do inimigo na pontada lança. É o SÀNGÓ amaldiçoado que matou e comeu a própria mãe.
Na verdade foi o 6º Alafin de Oyo que viveu em 1.240 A.C., aproximadamente. Era sobrinho neto de SHANGO.

sábado, 9 de abril de 2011

XANGO/HEVIOSO/ZAZE - PARTE X - XANGO NO BATUQUE


Orixá da justiça. Comporta-se ora com severidade, ora com benevolência.

Dia da semana: terça-feira
Cor: vermelho e branco
Número de axés: 06, 12, 24, 112, etc.
Comida: amalá, (carne de peito, com mostarda e pirão)
Verdura: caruru, mostarda e alho.
Guias: vermelho e branca meio pôr meio
Ferramentas: machado balança, livro e búzios.
Ave: galo branco e casal de galinhas d'angola
Pombo: cor de telha
Quatro - pé: carneiro com guampa sem ser castrado
Peixe: pintado.
Lugar de oferendas: pedreira.
Frutas: banana, pêssego, ameixa branca e maçã.
Bicho de estimação: leão e gato
Função: demanda com justiça
Parte do corpo que Xangô rege: peito e língua
Sobrenome de Orixás: Aganju, Agodô, Dada, Iomí, Biosó, Delê,Onobô, Lual, Demí, Emí, Ibeji, Dei, Laquí, Dupã, Toqui Oní, Omibola,Salabejú, Bahí, Sobô.
Flor: cravos vermelho e branco
Características: dono dos trovões, justiça, pedreiras e espíritos.
Apelido: tramposo
Ervas: inhame, arruda, gervão.
Doce: marmelada e doce de banana
Saudação: kaô kabelecilê
Santos que o representa: Aganju-São Miguel e São Gabriel; Agodô-São Jerônimo.

Orixá considerado poderoso, brabo, impulsivo e facilmente irritável.Divide-se em Xangô Agodô, o mais velho que é o Orixá da justiça, deus do equilíbrio, dono da balança e Xangô Aganjú, dono das leis e das escritas, padroeiro dos intelectuais.Xangô é o Orixá da sabedoria, que gera o poder da política, é a ele que recorremos para resolver problemas com papéis, documentos e estudos.Pessoas regidas por Xangô são dotados de grande poder de liderança e inteligência, são falantes e exímios profissionais Normalmente os filhos de Xangô são grandes políticos e advogados.

Características Positivas: personalidade forte, fala segura, atraentes, falantes, de gargalhada farta. Amantes fervorosos e insaciáveis, alegres, mas de grande responsabilidade e astúcia. Os filhos de Xangô Aganjú são grandes articuladores, fadados ao sucesso. Não são de muito movimento, mas chamam muita atenção pela sua vaidade.

Características Negativas: Exigentes, são vingativos e não perdoam uma falha. Acham que só eles mesmo são capazes de realizar algo. Impiedosos, tem o prazer de fazer sofrer. Por falar demais não sabem guardar segredos.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

XANGO/HEVIOSO/NZAZI - PARTE IX - NZAZI/KAMBARANGUANGE


TATETO NZAZI

Tateto Zaze, Tateto Kambaranguange, Tateto Mizaze, Tateto Loango, são alguns dos nomes do Inquice que se assemelha a Xangô, dos iorubanos.
Seu dia de culto é a quarta-feira e suas cores votivas são o vermelho e o branco. Usa machado duplo, coroa, braceletes, pulseiras, brincos, tranças e um chocalho que produz um som semelhante ao da chuva ao cair sobre a Terra.
Apesar de não ser defensor do sincretismo, registramos que no Brasil ele é comparado há alguns santos da igreja católica, tais como: São Jerônimo, São Judas Tadeu, São João, São Pedro e São José.
Sua saudação no Angola é: A-KU-MENEKENJI USOBA NZAJI – NZAZE (Salve o Rei dos Raios – Grande Raio).
Algumas são suas comidas votivas. Dentre elas citamos: milho verde com quiabos; quiabos cozidos em dendê, temperado com camarão seco, carne de peito e cebolas; rabada; milho assado; canjica; acarajé e outras.
Os animais de preferência deste Inquice são: cágado, bode, galo, garrote, carneiro, pato e leão (estes dois últimos sem prática no Brasil).
Quanto as frutas oferecidas a Zaze, citamos aquelas que são de muito agrado deste Inquice: maçã ácida, fruta-de-conde e caqui.
Seus elementos naturais são o fogo, a pedra-de-raio, o meteorito, o trovão e as pedreiras. No que diz respeito as favas de sua preferência podemos citar o alibé e o andará. As flores são: cravos brancos e vermelhos, palmas brancas e palmas vermelhas.
Se formos traçar um arquétipo dos filhos de Zaze podemos deizer que são fisicamente robustos, o queixo forte e voluntarioso, pescoço curto, boca carnuda e sensual. Violentos, orgulhosos, porém sua agressividade não é gratuita: eles se voltam contra os maus, pois seus filhos são paladinos da Justiça. São pessoas voluntariosas e enérgicas, afetivas e conscientes de sua importância real ou suposta. Das pessoas que podem ser grandes Senhores, corteses, mas que não toleram a menor contradição e, nesses casos, deixam-se possuir por crises de cólera, violentas e incontroláveis. Das pessoas sensíveis ao charme do sexo oposto e que se conduzem com tato e encanto no descenso das reuniões sociais, mas que podem perder o controle e ultrapassar os limites das decência. Enfim, o arquétipo de Zaze é aquele das pessoas que possuem um elevado sentido da sua própria dignidade e das suas obrigações, os que as leva a se comportarem com um misto de severidade e benevolência, segundo o humor do momento, mas sabendo guardar, geralmente, um profundo e constante sentimento de justiça. Seus filhos não toleram mentira, desonestidade e corrupção. Costumam ser valentes e severos.
Atribui-se aos iniciados de Zaze um físico forte, mas com certa quantidade de gordura e uma tendência à obesidade. Por outro lado, essa tendência é acompanhada por uma estrutura óssea bem desenvolvida e firme como uma rocha. Talvez seja atarracado, com tronco forte e largo em oposição à altura. De qualquer maneira, o arquétipo reservado para Zaze se aproxima a figura patriarcal do “déspota esclarecido”, aquele que tem o poder, exerce-o inflexivelmente, não admite dúvidas em relação a seu direito de possuí-lo, mas julga todos segundo um conceito escrito e sólido de bem e mal, ou seja, apesar de certa tendência autoritária, ele a canaliza de maneira ética, sendo variável no humor, mas capaz de conscientemente cometer uma justiça.
Os filhos de Kambaranguange, são basicamente justos, ponderados, energéticos, amistosos, falastrões, vaidosos, invejosos, teimosos, ambiciosos, fortes (física e moralmente), estourados, gananciosos, afeitos à engenharia e ao direito, sedutores, coerentes consigo mesmo, grandes escritores, infiéis, ciumentos, valentes, cruéis, “bom vivants”, gulosos e inteligentes. Têm tendências a serem hipertensos e suas conseqüências, além de nevralgias, tensão e problemas de impotência sexual, infertilidade masculina e de queimadura.
Zaze, Deus do Trovão, e também da Justiça. Poderoso, pode fulminar os injustos com sua pedra de raio. Representa também a sedução masculina. Inquice que traz a riqueza e o discernimento intelectual aos homens.
Uma coisa interessante de se observar é quanto ao seu animal votivo, o carneiro, cujos ataques que ele desfere são comparáveis à violência do raio e tem seus chifres em espiral como o fogo. É um Inquice libertino, turbulento, vermelho e quente e destaca-se pela intensa atividade sexual. Gosta do sacrifício do cágado, que multas vêzes é chamado seu cavalo, de galo e de pato. Sua possessão uma explosão, de alegria, sua dança é vigorosa e bela e seus filhos saúdam-no com palmas e fogos. Seus objetos sagrados são a dupla machadinha e a capanga de couro.
Zaze é um Inquice viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e malfeitores. Por esse motivo, a morte pelo raio é considerada infamante. Da mesma forma uma casa atingida por um raio é uma casa marcada por sua cólera. Essas pedras são consideradas emanações do Inquice e contêm o seu poder. O sangue dos animais sacrificados é denominado, em parte, sobre suas pedras de raio, para manter-lhes a força e o poder. O carneiro, cuja chifrada tem a rapidez do raio, é o animal cujo sacrifício mais lhe convém. Fazem-lhe, também, oferendas de quiabos e iguarias preparada com farinha de inhame, regada com molho feito com este legume. É, no entanto, formalmente proibido oferecer-lhe feijões brancos, constituindo-se como quizila, também, para seus iniciados. Uma outra quizila deste Inquice são as folhas e frutos da jabuticabeira, o guando (ervilha-de-angola), as doenças e mortes, o sal, o jenipapo e a banana d´água, finalmente, o dikezu (obi).
Zaze é um Inquice de grande importância nas Casas de Angola, principalmente quando se fala no culto à cumeeira. Normalmente deve ser assentado sete dias antes da iniciação de seu filho e sem o sacrifício de cágado neste momento, sendo que na morte de seu filho, nunca deve ser despachado, independentemente de ter cargo ou não na Casa.

Outra descrição de NZAZI
 
Entre os Tshokwé, o Mahamba Kalumbo ka Nzaji é considerado como “Njize” (estrangeiro/emprestado) e sua composição é a seguinte: um tronco bifurcado de árvore um cabo de machado amarrado ao mesmo tronco; o cabo de uma enxada, implantado na base do tronco em questão; em torno do qual há pedras e uma cabaça contendo um Itumbo filtro mágico. Este Hamba protege contra as doenças dos olhos, muitas vezes causadas pelo espírito estranho Kalumbo.
Entre os Quiocos, Nzaji é conhecido como uma divindade que representa a punição, lança seus raios como cães farejadores sobre os ladrões e, quando uma pedra proveniente do raio é encontrada, utilizam-na para confeccionar pontas de flecha e lança com o poder de atingir o alvo. Se uma árvore é atingida, é considerada consagrada e de lá tiram lenhos para a confecção de amuletos.
Dentre os Quiocos, um feitiço conhecido e temido por todos, é o “Feitiço Kuba” (feitiço do raio), que até o próprio possuidor do feitiço usa uma pulseira com pele de largato d’ água, pois este nunca foi atingido pelo raio.
Este feitiço é originário do povo Kuba, da região do alto Kassai (no Zaire) e, após ter sido denunciado às autoridades, foi depositado no museu do Dundo.
Crê-se que, para punir aqueles que desobedecem às forças divinas, os raios, os trovões e as tempestades descem irregularmente a terra, provocando incêndios, inundações e a morte em sinal da sua cólera. O feitiço Kuba consiste em desviar a faísca sobre uma habitação, pessoa ou grupo de pessoas que não pagam as suas dívidas.
Muitas vezes entre os povos Bantu, Nzaji é representado por um disco de madeira preso a um mastro, pintado de vermelho e branco, ou seja, Mukundu e Pemba, estando preso nele um chifre que contém filtros mágicos e serve de escudo para o raio, tempestades e projétil.
Na província do Sundi, a treze léguas de são Salvador/ Kongo, encontra-se um representante de Nzaji, o Nganga Nzaji, que professa a arte de curandeiro, com a ajuda do oráculo Ngombo, provavelmente cargo exercido por pessoa atingida pelo raio e, daí em diante, possuída por dons especiais.
É entre os Umbundos que a divindade Nzaji, é tido masculino, no qual o raio representa o macho penetrando a fêmea terra. É uma divindade também da fertilidade, representada pelo machado de pedra duplo, que simboliza o poder destruidor e criador da divindade. Aquele que tem o machado do raio tem o poder do mesmo.
Alguns povos Bantu, criadores de gado, ofertam leite ao raio “Nzaji” para preservar seu rebanho, pois dizem que Nzaji vem em busca do leite, causando assim a morte do animal. Depois de ser atingido pelo raio, o animal não poderá servir de alimento para as tribos, pois agora pertence à divindade Nzaji.

Qualidades

KAMBARANGUANGE ARÁ
ZAZI MOBONA - Semelhante a Baru - fica ao tempo, em local sem cobertura
MAKUDIANDEMBU
LUANGO - Branco - semelhante a Ayrá Osi.
LUVANGO - Vermelho - semelhante a Ayrá Bonan
ZAZI KINAMBO
ZAZI MAKULE
ZAZI NGUELE
ZAZI KIANGO
NJEREWÀ
ZAMBELE
MASSANGANGA
KARIOLÉ
MONAKAIA - seria filho de Kaiala
ZAMBARA
KATUBELANCI - Come com Kavungu






terça-feira, 5 de abril de 2011

XANGO/HEVIOSO/NZAZI - PARTE VIII - A FOGUEIRA DE XANGO


A Fogueira de Xangô
São duas as partes em que a cerimônia pode ser dividida: uma onde é acesa uma fogueira em homenagem a Xangô, realizada na parte externa do terreiro, e outra no barracão, onde se realizam as danças e louvações aos Orixás Xangô teria sido o quarto rei da cidade de Oyó (Nigéria), que foi o mais poderoso dos impérios iorubás. Após sua morte, foi divinizado, como era comum acontecer com os grandes reis e heróis daquele tempo e lugar, e seu culto passou a ser o mais importante da sua cidade, a ponto de o rei de Oyó, a partir daí, ser o seu primeiro sacerdote. Mas sua história começa um pouco antes: Um guerreiro chamado Oduduwa, que vinha de uma cidade do Leste, invadiu com seu exército a capital de um povo então chamado Ifé e se tornou seu governante, mudando o nome da cidade para Ilê-Ifé. Oduduwa teve um filho chamado Acambi, que teve sete filhos. O sétimo foi Oraniã, que foi rei da cidade Oyó. Um dos filhos de Oraniã tinha o nome Xangô, e era o grande guerreiro que governava Kossô, pequena cidade localizada nas cercanias da capital Oyó. Xangô um dia destronou o irmão Ajacá-Dadá, e o exilou como rei de uma pequena e distante cidade, onde usava uma pequena coroa de búzios, chamada coroa de Baiani. E assim foi coroado o quarto Alafin de Oyó, o obá (rei) da capital de todas as grandes cidades iorubás. O rei Xangô, que depois seria conhecido por Trovão, sempre procurava descobrir novas armas para com elas conquistar novos territórios. Quando não fazia a guerra, cuidava de seu povo. No palácio recebia a todos e julgava suas pendências, resolvendo disputas, fazendo justiça. Um dia mandou sua esposa Yansan ir ao reino vizinho e de lá trazer para ele uma tal poção mágica. Yansan foi e encontrou a mistura mágica, que tratou de transportar numa cabacinha. Por ser curiosa, Yansan provou da poção e achou o gosto ruim. Quando cuspiu o gole que tomara, entendeu o poder do poderoso líquido: ela cuspiu fogo! Xangô ficou entusiasmadíssimo com a nova descoberta. Se ele já era o mais poderoso dos homens, o que dirá agora, que tinha a capacidade de botar fogo pela boca. Quem resistiria? O Obá de Oyó subiu a uma elevação, levando a cabacinha mágica, e lá do alto começou a lançar seus assombrosos jatos de fogo. Os disparos incandescentes atingiram a terra chamuscando árvores, incendiando pastagens, fulminando animais. O povo, amedrontado, chamou aquilo de raio. Da fornalha da boca de Xangô, o fogo que jorrava provocava as mais impressionantes explosões. De longe, o povo escutava os ruídos assustadores, que acompanhavam as labaredas expelidas por Xangô. Aquele barulho intenso, aquele estrondo fenomenal, que a todos atemorizava e fazia correr, o povo chamou de trovão. Mas a sorte foi ingrata. Num daqueles exercícios com a nova arma, o Obá errou a pontaria e incendiou seu próprio palácio. Do palácio, o fogo se propagou de telhado em telhado, queimando todas as casas da cidade. Em minutos, a orgulhosa cidade de Oyó virou cinzas. Os conselheiros do reino se reuniram para destituir Xangô. Ele se retirou para a floresta e numa árvore se enforcou. Sua morte teria sido injusta e por isso o Orun o acolheu como imortal. De todos os orixás que marcam a saga da cidade de Oyó, nenhum foi mais reverenciado que Xangô, mesmo quando Oyó passou a ser apenas um símbolo esfumaçado na memória dos atuais seguidores das religiões dos Orixás espalhados nos mais distantes países da diáspora africana do lado de cá e do lado de lá do oceano. É enorme a importância que Xangô ocupa nas religiões africanas nas Américas, pois foi exatamente nesse momento histórico da chegada dos iorubás, que as religiões africanas se constituíram, no século XIX. Nascido da iniciativa de negros iorubás que se reuniam numa irmandade religiosa na igreja da Barroquinha, em Salvador, o primeiro templo iorubá da Bahia foi, emblematicamente, dedicado a Xangô. Seus ritos, que em grande parte reproduziam a prática ritualística de Oió, acabaram por moldar a religião que viria a se constituir no candomblé. Ele é mais que história da África e mais que história do Brasil. Seu duplo machado visa a justiça para cada um dos lados. Suas pedras-de-raio são o santuário guardião das esperanças de tanta gente que padece em conseqüência das mazelas da sociedade: desemprego, falta de oportunidades, incompreensão e dificuldade no trabalho, escassez de meios de sobrevivência, perseguição e disputas insanas. Apelar a Xangô, para o devoto, é buscar alento, realimentar esperanças, prover-se de forças para a difícil aventura da vida. Mas no terreiro em festa, sob o roncar frenético dos tambores, a dança de Xangô não é tão somente demonstração de energia e de força marcial, de cadência e de vitalidade, mas igualmente harmonia, graça e sensualidade. Xangô é duro, mas também se identifica com o bom da vida. O paladar de Xangô não dispensa jamais o prazer da boa mesa, tanto é que suas oferendas devem ser sempre servidas em grande quantidade, pois Xangô aprecia que seus súditos comam muito e bem. Seu prato predileto é o amalá, comida feita à base de quiabo, camarão, pimentas de várias qualidades, e tantos outros condimentos que são verdadeiras iguarias, utilizados pelas filhas-de-santo que muito apreciam e disputam a preparação da comida para os deuses. A comida servida no terreiro serve também para “reunir gente”, e Xangô é o Orixá que mais as acolhe, pois toda corte é repleta de súditos e não seria diferente no terreiro, onde há sempre muita gente, muita dança e muita comida, bem de acordo com um rei. A "Fogueira de Xangô", faz parte da festa em celebração a este orixá. São duas as partes em que a cerimônia pode ser dividida: uma onde é acesa uma fogueira em homenagem a Xangô, realizada na parte externa do terreiro, e outra no barracão, onde se realizam as danças e louvações aos Orixás. E sob o comando do Alabê, são entoados os cânticos que estabelecerão a relação entre os homens e as divindades. Os cânticos de Xangô são considerados como os mais tradicionais e próximos daqueles produzidos em seu local de origem, a África Ocidental. O ‘alujá’, ritmo preferido de Xangô impera nas cerimônias. Durante a primeira fase das celebrações dedicadas a Xangô, isto é, aquelas realizadas junto à fogueira, são entoadas as rezas do "Orixá do Fogo", um dos títulos atribuídos ao antigo Alafin de Oyó. São inúmeras as rezas dedicadas a este Orixá. Na reza é saudado Aganju, o Alafin de Oyó, filho de Ajaká e sobrinho de Xangô. Iyaamassê, considerada sua mãe, é quem revela aos mortais, a pedra de raio, símbolo de seu poder, e encontrada ao pé da grande árvore. O brilho do raio e o barulho dos trovões lembram que Aganju vigia do Orun, a terra dos ancestrais, seus súditos e fiéis. O cântico permanecerá por muito tempo, e a cada vez, os vários nomes conhecidos de Xangô são entoados. Sucede a Aganju, no texto, Airá, depois Baru e outros, doze no total. As yawôs executam um bailado próprio desta cerimônia. Após a "Roda de Xangô", a cerimônia prossegue, louvando o "Orixá do Fogo", através de danças e cânticos a ele dedicados, num repertório que pode ultrapassar, segundo alguns, a mais de quatrocentas cantigas. A memória de Xangô, exerce uma função essencial na vida do povo-do-santo.

Fonte: Risoma
Reginaldo Prandi


XANGO/HEVIOSO/NZAZI - PARTEVII - XANGO NA UMBANDA


Xangô é a divindade que rege o fogo, o trovão, os raios, muito semelhante à Javé, Zeus, Odin e Tupã. Pode, através da sua justiça, dispensar favores, movendo favoravelmente ventos, raios, trovões para nos defender e para ganharmos causas. A sua Lei é como a rocha, dura, justa, cega... Portanto, devemos pensar duas vezes antes de batermos a mão, a cabeça e clamarmos por justiça, pois se a nossa demanda for justa ele nos amparará e se não for aos rigores de sua lei seremos chamados e o seu raio de correção virá para cima de nós mesmos. Então quando nos sentirmos injustiçados, devemos pedir que Xangô nos esclareça e se estivermos certos então que ele esclareça a outra parte e se esta não ouvir então não precisamos nem pedir, que a lei de ação e reação é automática e se cumprirá a justiça de Xangô em nossas vidas.
O santuário natural, sagrado, ponto de força e habitat, aonde se costuma depositar oferendas é no alto de uma pedreira ou na cachoeira. Na pedreira, com Iansã, Xangô nos traz o arrojo, a determinação, a fortaleza, a segurança, a firmeza e a sustentação. Na cachoeira, junto com Oxum, nos purifica, nos energiza, nos dá vida, vigor, saúde e inteligência.
No esoterismo de Umbanda Xangô é o Senhor das Almas, cujo atributo é a sabedoria a fim de exercer a Justiça Divina, aferindo em sua balança todas as almas. Através da manipulação do elemento fogo, Xangô, mais do que fazer cumprir a lei kármica para todos os seres viventes, ilumina o caminho a ser seguido, bem como ajuda a libertar dos grilhões milenares dos enganos que escravizam a consciência.

Os sincretismos de Xangô na Umbanda
No sincretismo associou-se o Xangô das Pedreiras a São Jerônimo, aquele que amansa o leão e que tem o poder da escrita e o livro onde escreve na pedra suas leis e seus julgamentos. Protetor dos intelectuais, dos magistrados. Já na cachoeira o sincretismo foi com São João Batista, por causa do batismo de Jesus, de lavar a cabeça na água doce para se purificar. Com o poder do fogo de Xangô é queimado, destruído tudo o que é de ruim e ocorre a transmutação trazendo tudo o que é de bom, todo o bem possível, de acordo com o nosso merecimento. Isso é o que pedimos nas fogueiras do mês de junho.
Alguns dizem que São Judas Tadeu, por ter um livro na mão também pode sincretizar-se com Xangô ou que tem uma linha espiritual que atua nas correntes de Xangô. Assim, Tudo o que é ligado a trabalhos e pedidos de estudos, à cabeça, papéis, entregamos a linha de Xangô. Xangô é o grande Rei, poderoso, autoritário, porém que tem compaixão e é justo. Xangô tem autoridade é valente, mas tem um grande e bom coração.
Pertence a 6ª Linha vibratória da Umbanda - Esta Linha dirigida por Xangô, "Orixá do Fogo" sob a orientação de São Jerônimo, também denominado Orixá da Justiça, impõe a justiça, dando castigo a quem merecer. É a Linha na qual aqueles que foram humilhados, serão elevados espiritualmente, os que castigaram, serão castigados e os que se enalteceram, serão rebaixados. Formação da 6ª linha:
Legião de Iansã, chefiada por Santa Bárbara
Legião do Caboclo Ventania (ou dos Ventos)
Legião do Caboclo das Cachoeiras
Legião do Caboclo Sete Montanhas
Legião do Caboclo Pedra Branca
Legião do Caboclo Cobra-Coral
Legião dos Pretos Velhos, integradas por Falanges de todas as raças e dos povos de Quenquelê

Exus ligados a Xangó:
Exu Giramundo
Exu Pedreira
Exu Corcunda
Exu Ventania
Exu da Meia Noite
Exu Mangueira
Exu Calunga

O seu machado é o símbolo da imparcialidade. É uma divindade da vida, representado pelo fogo ardente e por essa razão não tem afinidade com a morte e nem com os outros orixás que se ligam à morte.

Xangô, sincretizado com São João Batista, é também o patrono da linha do oriente, na qual se manifestam espíritos mestres em ciência ocultas, astrologia, quiromancia, numerologia, cartomancia. Por este motivo, a linha dos ciganos vem trabalhar nesta irradiação.
Sincretizado no Rio de Janeiro com São Jerônimo tem o seu dia comemorado em 30 de setembro.
Encontramos também outras datas de comemoração porque este Orixá foi sincretizado com outros Santos Católicos, em função de seus desdobramentos, a saber:

Xangô Alafim-Eché (São Jerônimo - 30 de setembro),
Xangô Abomi (Santo Antônio - 13 de junho),
Xangô Alufam (São Pedro - 29 de junho),
Xangô Agodô (São João Batista - 24 de junho),
Xangô Aganju (São José - 19 de março)
Xangô D’jacutá (sem sincretismo - Regência geral da Linha de Xangô).

Seu número cabalístico é o n° 4 que representa a balança, a justiça, a igualdade, comanda também o nosso sétimo chacra, o kundallini, o único chacra nas nossas costas.
Reino: pedreira.
Força da natureza que rege: trovão.
Cores: marrom, amarelo e às vezes o vermelho, cinza e ainda o roxo.
Elementos: ar e terra.
Dia da semana de vibração maior: quarta-feira
Planeta: Mercúrio
Características dos seus filhos: Rigidez de pensamento tem grande senso de justiça, são pessoas metódicas, equilibradas e tem facilidade no estudo.
Sua pedra é a ágatha de fogo e topázio seu metal o estanho e sua bebida o vinho tinto seco.
Os filhos deste Orixá têm como erva de descarrego a Mangueira e de elevação o Alecrim, o lírio branco e folhas de limão.
Xangô comanda o elemento Fogo, apesar de manipular a água também
Sua Saudação é Caô Cabecile meu pai!
Governante do signo de Sagitário e Peixes, sua vibração representa a Justiça, o idealismo, a honestidade enfim os sentimentos ligados a boa índole.
Os filhos deste Orixá costumam serem honestos, otimistas, sinceros. Entretanto são controladores, rebeldes e donos da verdade.

O sincretismo de São João com Xangô

São João Batista nasceu no dia 24 de Junho. Era filho de Zacarias e Isabel, e primo de Jesus Cristo. Nasceu com a missão de preparar o caminho para a chegada do Messias. Por esse motivo, a imagem de São João Batista é geralmente apresentada como um menino com um carneirinho no colo, pois foi ele, segundo a Bíblia, que anunciou a chegada do cordeiro de Deus, o Cristo Jesus.
Diz a história bíblica, que na antiga Judéia, as primas Isabel e Maria, mãe de Jesus, estavam grávidas. Como moravam distantes, elas combinaram que a primeira a ganhar bebê anunciaria a novidade acendendo uma fogueira em frente à própria casa. Santa Isabel cumpriu a promessa quando do nascimento de seu filho, João Batista.
É considerado o último dos profetas, e o primeiro apóstolo. Os evangelhos dizem que, ainda no ventre de sua mãe, João percebe a presença do Messias, "estremecendo de alegria" na presença de Maria, quando esta ia visitar a prima Isabel. O evangelho de São Mateus fala das pregações e dos batismos que realizava às margens do rio Jordão, não distante de Jericó. Foi João Batista quem batizou o próprio Cristo.
Crítico da hipocrisia e da imoralidade, João Batista condenou publicamente o fato de o rei ser amante da própria cunhada, Herodíades. Salomé, filha de Herodíades, dançou tão bonito diante de Herodes, que este lhe prometeu o presente que quisesse. A mãe de Salomé aproveitou a oportunidade para se vingar: anunciou que o presente seria a cabeça de João Batista sobre uma badeja. João Batista, juntamente com os profetas Elias e Eliseu, é considerado o protótipo do ideal ascético, e modelo de vida perfeita. Podemos dizer até, que ele, João, seria o próprio Agnus Dei (o Cordeiro de Deus), portador e síntese da tradição judaica mais pura, que ardia entre os Essênios daquela época.
O valor simbólico e filosófico de João Batista, portanto, ultrapassa completamente o dogma católico: João batizava os seus adeptos com água (ou seja, utilizando um símbolo material), mas afirmava que o que viria depois dele "batizaria com fogo", isto é, o Espírito Santo.
João Batista é o início santo, além de Virgem Maria, de quem a liturgia celebra o nascimento para o Céu, celebrando o nascimento segundo a carne. Na comunidade religiosa da igreja católica os missionários de São João batista, ou seja, seus membros (sacerdotes ou leigos) consagram a sua vida a Cristo, através dos votos de castidade, obediência, e pobreza. Numa atitude de acolhimento e de disponibilidade, alicerçados no Cristo da Eucaristia, os missionários de São João Batista devem tornar-se para os homens de hoje sinais do Reino e anunciar os caminhos do senhor, a exemplo do seu padroeiro.
Deste modo, o simbolismo de "Yohanan" (João em hebraico) ganha, com os séculos, uma poderosa força, que é cultivada por várias correntes gnósticas até chegar à idade média, na qual hospitalários e templários, desde a sua origem, invocam João Batista para seu patrono. Assim, São João, o fogo e o solstício de verão, no hemisfério norte, estão indissoluvelmente ligados com uma ação, um trabalho essencialmente transformador, no qual o "Fogo Sagrado" agirá, quer como agente hermético-alquímico quer como condição necessária para o trabalho, quer como inteligência criadora, criativa e genial, avessa a qualquer Avatar, porque não reconhece poder na Terra superior a Deus.
Anel de ligação entre a antiga e nova aliança (Moisés e Jesus, respectivamente), João foi acima de tudo o enviado de Deus, uma testemunha fiel da luz, aquele que anunciou Cristo e O apresentou ao mundo.
A tradição da fogueira nasceu antes do Cristo. Queimar fogueiras, naquela época, significava saudar a chegada do verão, e apenas no século VI, o catolicismo associou as comemorações pagãs ao aniversário de São João Batista. Os portugueses no século XIII incluíram São Pedro, e Santo Antônio, e no Brasil, a data é celebrada desde 1583.