sábado, 27 de março de 2010

ERVAS E SUAS FUNÇÕES RITUALISTICAS - OYA/AVEJIDA/MATAMBA

OYA


Alface: É empregada nas obrigações de Egun, e em sacudimentos.
Altéia – Malvarisco: Muito empregada nos banhos de descarrego e na purificação das pedras dos orixás Nanã, Oxum, Oxumarê, Yansã Yemanjá.
Cambuí amarelo: Só é utilizado em banhos de descarrego.
Catinga-de-mulata – Cordão-de-Frade – Cordão-de-São-Francisco: Seu uso ritualístico se restringe aos banhos de limpeza e descarrego dos filhos de Oyá.
Cordão-de-Frade verdadeiro: Essa planta é aplicada em banhos tonificantes da aura e limpezas em geral.
Cravo-da Índia – Cravo-de- Doce: Entra em quaisquer obrigações de cabeça e nos abô. Participa dos banhos de purificação dos filhos dos orixás a que pertence.
Espirradeira – Flor-de-São-José: Participa de todas as obrigações nos cultos afro-brasileiros. Esta planta é utilizada nas obrigações de cabeça, nos abô e nos abô de ori. Pertence aos orixás Xangô e Yansã, porém há, ainda, um outro tipo branco que pertence a Oxalá.
Eucalipto-limão: de grande aplicação nas obrigações de cabeça e nos banhos de descarrego ou limpeza dos filhos de orixá.
Flamboiant: Não é utilizado em obrigações de cabeça, sendo usado somente em algumas casas de banhos de purificação dos filhos dos orixás. Porém suas flores tem vasto uso, como ornamento, enfeite de obrigação ou de mesas em que estejam arriadas as obrigações.
Gengibre-zingiber: São aplicados os rizomas, a raiz, que se adiciona ao aluá e a outras bebidas. O povo costuma dizer que é também ingrediente no amalá de Xangô.
Jitó-carrapeta – bilreiro: É de hábito ritualístico empregá-la em banhos de limpeza e purificação dos filhos do orixá a que se destina.
Hortelã-da-horta – Hortelã-verde: Muito usada na culinária sagrada. Entra nas obrigações de cabeça alusivas a qualquer orixá. Participa do abô dos filhos-de-santo.
Jenipapo: As folhas servem para banhos de descarrego e limpeza.
Lírio do Brejo: São usados folhas e flores nas obrigações de ori, nos abô e nos banhos de limpeza ou descarrego.
Louro – Loureiro: Planta que simboliza a vitória, por isso pertence a Oyá. Não tem aplicação nas obrigações de cabeça, mas é usada nas defumações caseiras para atrair recursos financeiros. Suas folhas também são utilizadas para ornamentar a orla das travessas em que se coloca o acarajé para arriar em oferenda a Iansã.
Mãe-boa: Seu uso se restringe somente aos banhos de limpeza.
Manjericão-roxo: Empregado nas obrigações de ori dos filhos pertencentes ao orixá do trovão. Colhido e seco, previne contra raios e coriscos em dias de tempestades, usando o defumador.
Maravilha bonina: Utilizada nas obrigações de ori relativas a Oyá, bori, lavagem de contas e feitura de santo. Não entra nos abô a serem tomados por via oral.

sexta-feira, 26 de março de 2010

ERVAS E SUAS FUNÇÕES RITUALISTICAS - LOGUN/AJAUNSI/GONGOBILA


Logun
Logun Edé, em sua passagem pela Terra, se apropriou das ervas de seus pais para por fim aos males terrenos; curou muitas pessoas e ainda cura até os dias de hoje aqueles que nele depositam sua fé. Além de todas as ervas de Oxum e Oxóssi que ele utiliza para curar, destaca-se, ainda, uma única de sua propriedade, hoje de grande importância para a medicina caseira: o Piperegum Verde e Amarelo.
Piperegum Verde e Amarelo : Planta sagrada de Logun Edé, originária de Guiné, na África. Trata-se de uma erva que possui extraordinário efeitos nas várias obrigações do ritual, possuindo grande eficácia nos sacudimentos pessoais e domiciliares e nos abô como afastamento de mão de cabeça no caso de pai e mãe de santo vivo, cercando as pernas da pessoa com folhas de piperegum ou amarradas ao tornozelo; feito isso, a cerimônia é iniciada.

ERVAS E SUAS FUNÇÕES RITUALISTICAS - NANÃ/NÃ/ZUMBARANDA

Nana


ESSA OBRA É DO ARTISTA PLASTICO BAIANO LEO S.
https://www.facebook.com/africanarte

Agapanto: É um vegetal pertencente a Oxalá, Nanã e a Obaluayê. O branco é de Oxalá e o lilás é da deusa das chuvas e do orixá das endemias e das epidemias. É também aplicado como ornamento em pejis, e banhos dos filhos destes orixás.
Altéia – Malvarisco: Muito empregada nos banhos de descarrego e na purificação das pedras dos orixá Nanã, Oxum, Oxumare, Yansã e Yemanjá.
Angelim-amargoso – Morcegueira: Pertence a Nanã e Exu. Folhas e flores são utilizadas nos abô dos filhos de Nanã. As cascas dizem respeito a Exu; elas são aplicadas em banhos fortes de descarrego, com o propósito de destruir os fluidos negativos.
Assa-peixe: Usada em banhos de limpeza e nos bori dos filhos do orixá das chuvas.
Cipreste: Aplicada nas obrigações de cabeça e nos banhos de purificação e descarrego.
Gervão: Além de ser folha sagrada de Nanã, também é Xangô.
Manacá: Seu uso ritualístico se limita aos banhos de descarrego. Muito empregada na magia amorosa. Nesse sentido, ela é usada em banhos misturada com girassol e mil-homens.
Quaresma – Quaresmeira: Esta arboreta tem aplicação em todas as obrigações de cabeça, nos abô e nos banhos de limpeza e purificação dos filhos da deusa das chuvas. Durante o ritual toda a planta é aproveitada, exceto a raiz.
Quitoco: Usada em banhos de descarrego ou limpeza.

ERVAS E SUAS FUNÇÕES RITUALISTICAS - OBALUAYE/SAKPATA/KAVIUNGO

Obaluaye





Agoniada: Faz parte de todas as obrigações do deus das endemia e epidemias. Utilizada no bori, nas lavagens de contas e na iniciação. Esta erva purifica os filhos-de-santo, deixando-os livres de fluidos negativos.
Alfavaca-roxa: Empregada em todas as obrigações de cabeça e nos abô dos filhos deste orixá. Muito usada em banhos de limpeza ou descarrego.
Alfazema : Empregada em todas as obrigações de cabeça. É aplicada nas defumações de limpeza, usada também na magia amorosa em forma de perfume.
Babosa: Muito usada em rituais de Umbanda, mais especificamente em defumações pessoais. Para que se faça a defumação, é necessário queimar suas folhas depois de secas. Isso leva um certo tempo, devido a gosma abundante que há na babosa. A defumação é feita após o banho de descarrego.
Araticum-de-areia – Malolô: Liturgicamente, os bantos a usam nos banhos de descarrego, em mistura de outra erva.
Arrebenta cavalo: No uso ritualístico esta erva é empregada em banhos fortes do pescoço para baixo, em hora aberta. É também usado em magias para atrair simpatia.
Assa-peixe: Usada em banhos de limpeza e nos bori.
Musgo: Aplicada em todas as obrigações de cabeça referentes a qualquer orixá.
Beldroega: Usada nas purificações das pedras de orixá e, principalmente as de Exu.
Canena Coirana: Vegetal de excelente aplicação litúrgica, pois entra em todas as obrigações.
Capixingui: Empregada em todas as obrigações de cabeça, nos abô, nos banhos de purificação e limpeza e, também nos sacudimentos.
Cordão de Frade: É aplicada somente em banhos de limpeza e descarrego dos filhos deste orixá.
Erva-Moura: Esta erva faz parte dos banhos de limpeza e purificação dos filhos do orixá.
Estoraque Brasileiro: Sua resina é colhida e reduzida a pó. Este pó, misturado com benjoim, é usado em defumações pessoais. Essa defumação destina-se a arrancar males.
Figo Benjamim: Erva muito usada na purificação de pedras ou ferramentas e na preparação do fetiche de Exu. Empregada, também, em banhos fortes para pôr fim a padecimentos de pessoa que esteja sofrendo obsidiação ou obsessão.
Hortelã brava: Empregada em obrigações de ori, nos abô e nos banhos de purificação dos filhos deste orixá.
Guararema: Em terreiros de Umbanda e Candomblé ela é aplicada em banhos fortes e nos descarrego. Os galhos da erva são usados em sacudimentos domiciliares. Os banhos fortes a que nos referimos são aplicados em encruzilhadas – na encruzilhada em que se tomar o banho arria-se um mi-ami-ami, oferecido a Exu. E deve ser feito em uma encruzilhada tranqüila. É um banho de efeitos surpreendentes.
Jenipapo: As folhas servem para banhos de descarrego e limpeza.
Jurubeba: Somente usada em obrigações com objetivo de descarrego e limpeza.
Mangue Cebola: É usado apenas em sacudimentos domiciliares, utilizando o fruto, a cebola. Procede-se assim: corta-se a cebola em pedaços miúdos e, cantando-se para Exu, espalha-se pela casa, nos recantos, e sob os móveis.
Mangue vermelho: Usa-se apenas as folhas, em banhos de descarrego.
Manjericão-roxo: Empregado nas obrigações de ori dos filhos pertencentes ao orixá das endemias. Colhido e seco, sua folha previne contra raios e coriscos em dias de tempestades, usando o defumador. Também é usada como purificador de ambiente.
Panacéia: Entra nas obrigações de ori e banhos de descarrego ou limpeza.
Picão da praia: Apenas na Bahia ouvimos falar que esta planta pertence a Obaluaiê.
Piteira imperial: Seu uso se limita às defumações pessoais, que são feitas após o banho.
Quitoco: Usada em banhos de descarrego ou limpeza.
Trombeteira branca: É usada nos banhos de limpeza dos filhos do orixá da varíola.
Urtiga-mamão: Aplicada em banhos fortes, somente em casos de invasão de eguns. O banho emprega-se do pescoço para baixo. Esse banho destrói larvas astrais e afasta influências perniciosas.
Velame do campo: Vegetal utilizado em todas as obrigações principais: bori, simples ou completo. Indispensável na feitura de santo e nos abô dos filhos do orixá.
Velame verdadeiro: Possui plena aplicação em quaisquer obrigações de cabeça e nos abô. Usada também nos sacudimentos.

ERVAS E SUAS FUNÇÕES RITUALISTICAS - OXUMARE/BESSEN/ANGORO

Alcaparreira – Galeata: Entra em várias obrigações do ritual, utilizando-se folhas e cascas verdes. Muito prestigiada nos abô de preparação dos filhos para obrigação de cabeça e nos banhos de limpeza.
Altéia – Malvarisco: Muito empregada nos banhos de descarrego e na purificação das pedras dos orixás Nanã. Oxum, Oxumarê, Yansã e Yemanjá.
Angelicó – Mil-homens: Tem grande aplicação na magia de amor, em banhos de mistura com manacá (folhas e flores), para propiciar ligações amorosas, aproximando os sexo masculino.
Araticum-de-areia – Malolô: Liturgicamente, os bantos a usam nos banhos de descarrego, sem mistura de outra erva. .
Cavalinha – Milho-de-cobra: Aplicada nas obrigações de cabeça, nos abô e como axé nos assentamentos dos dois orixás.
Graviola – Corosol: Tem plena aplicação nos abô dos orixás, nos banhos de abô e nos de limpeza e descarrego. É indispensável aos filhos recolhidos para obrigações de cabeça beberem uma dose de suco pela manhã.
Língua-de-vaca – Erva-de-sangue: Planta empregada nas obrigações principais, nos abô e nos banhos de purificação dos filhos do orixá. É axé para assentamentos do mesmo orixá.
Alevante – Levante: Usada em todas as obrigações de cabeça, nos abô e nos banhos de limpeza de filhos de santo.
Alfavaca-roxa: Empregada em todas as obrigações de cabeça e nos abô dos filhos deste orixá. Muito usada em banhos de limpeza ou descarrego.
Angelicó  - Mil-homens: Tem grande aplicação na magia de amor, em banhos de mistura com manacá (folhas e flores), para propiciar ligações amorosas, aproximando os sexo masculino.
Aperta-ruão: Os babalorixás a utilizam nas obrigações de cabeça; no caso dos filhos do trovão é usada a nega-mina.

ERVAS E SUAS FUNÇÕES RITUALISTICAS - YEMANJÁ/ABÊ/MIKAIA

Yemanja




ALCAPARREIRA – Galeata: Muito usada nos terreiros do Rio Grande do Sul. Entra nas mais variadas obrigações do ritual, sendo utilizadas para isso folhas e cascas. Também é muito prestigiada nos abô de preparação dos filhos, para obrigação de cabeça e nos banhos de limpeza.
ALTEIA – Malvarisco: Muito empregada nos banhos de descarrego e na purificação das pedras dos orixás Nanã, Oxum, Oxumarê, Yansã e Yemanjá.
ARAÇA-DA-PRAIA: Planta arbórea pertencente a Yemanjá e a Oxóssi. É empregada nas obrigações de cabeça, nos abô e nos banhos de purificação dos filhos dos orixás a que pertence.
ARATICUM-DA-AREIA – Malolô: Liturgicamente, os bantos a usam nos banhos de descarrego, sem mistura de outra erva.
COCO-DE-IRI: Sua aplicação se restringe aos banhos de descarrego, empregando-se as folhas.
ERVA DE SATA LUZIA: Muito usada nas obrigações de cabeça, ebori, lavagem de contas, feitura de santo e tiragem de Vumi. De igual maneira, também se emprega nos abô, banhos de descarrego ou limpeza dos filhos dos orixás.
FRUTA-DA-CONDENSA -Fruta-da-Condessa: Tem aplicação nas obrigações de cabeça, nos banhos de descarrego e nos abô.
GRAVIOLA – Corosol: Tem plena aplicação nos abô dos orixás, nos banhos de abô e nos de limpeza e descarrego. É indispensável aos filhos recolhidos para obrigações de cabeça beberem uma dose do suco pela manhã. O povo usa a graviola nos casos de diabete, aplicando o chá.
GUABIRABA ANIS: Aplicada em todas as obrigações de cabeça, nos abô de uso geral e nos banhos de purificação e limpeza dos filhos dos orixás. Utilizadas do mesmo modo nos abô de ori.
MAÇA DE COBRA: Usada nas obrigações de cabeça, nos abô e nos banhos de descarrego e limpeza.
MUSGO MARINHO: Esta planta vive submersa nas águas do mar. É planta que entra nas obrigações de ori e nos banhos de limpeza dos filhos de Yemanjá.
PATA DE VACA : empregada nos banhos de descarrego e nos abô, para limpeza dos filhos dos orixás a que pertence.
TRAPOERABA AZUL – Marianinha: Esta planta é aplicada em todas as obrigações de cabeça, nos abô e nos banhos de limpeza e purificação. Também é axé integrante dos assentamentos do orixá a que pertence.
UNHA DE VACA: Aplicada em banhos de descarrego dos filhos da deusa.

terça-feira, 23 de março de 2010

AZAKA

Azaka vodum caçador, raro e muito antigo. Vodum masculino da familia de Sakpata, que é rei de Savalu, irmão de Agongone e de Tôpa. Considerado o Vodum da agricultura. Vive nas partes mais escuras das florestas de Savalu, aceita suas oferendas em grutas mais escondidas, pois gosta de comer em segredo. Usa arco e flecha. É um caçador de extrema habilidade e conhecimento das florestas de Savalú. Tio de Otolú, caçador que desde pequeno mostrava suas habilidades   na caça e na arte de guerrear, sempre aos cuidados de seu tio (Azaká) que como irmão de seu pai, lider dos Zuncotole (Guardiões da floresta) preparou Otolu para sucedê-lo.  Nesse tempo Azaká, Otolú e seu primo Azönwani quando juntos em caçadas ou batalhas na floresta eram chamados pelos inimigos e admiradores de "Hùndevalú" título dado aos grandes ancestrais Caçadores-Guerreiros da antiga dinastia de Savalú. Suas oferendas são as mesmas de Otolu e das de Sakpata, bolos de milho, pipoca, frutas, eran-peterê, bifes de porco, cereais etc. Suas cores são o azul claro  podendo ser acrescentadas as cores de Sakpata. Sua saudação é BISALO (bi-saló), cuja resposta é “Lo (ló)”. Seu fetiche é um camponês carregando um saco de palha nas costa, cheio de cereais. Suas ervas são as mesmas de Otolu misturadas com as de Sakpata. Seu assentamento leva elementos  de Sakpata com Otolu.
Vodun homenageado  na Casa das Minas - Maranhão junto com as festividades de Oxossi. 
No Haiti, Azaka, Azacca, Papa Zaka ou Kouzen Zaka ("Primo Zaka") é o loa (vodum) haitiano da agricultura e do trabalho, representado como um camponês vestido de karabel ("brim"), com um mushwa ("lenço") vermelho no pescoço e um chapéu de palha, carregando um djakout (bolsa franjada de ráfia) e um machete e fumando cachimbo.
É mestre em tratar doenças com ervas que carrega no djakout. Tem uma voz agunda e nasal quando é muito enérgico. Costuma cantar que ele não rouba, não pede caridade, e então rouba algo. Muitas de suas canções falam de gente que lhe pede coisas que ele não tem. É um dançarino muito vigoroso e freqüentemente enrola uma perna de caça até o joelho. Tem muitos filhos e os vê como forma de proteção no futuro.
Recebe sacrifícios de galos vermelhos. Suas cores são verde, índigo e branco. Bebe kleren (rum caseiro) aromatizado com certas ervas e também tequila, refrigerante cola e café com muito açúcar. Também lhe oferecem garapa, cana-de-açúcar, milho torrado, amendoins e pipoca com coco. Suas comidas são arroz e feijão, milho cozido, inhames, pão de mandioca, batatas doces, bacalhau salgado, bananas, outros tipos de pães, frutas e balas. É sincretizado com Santo Isidoro.






segunda-feira, 1 de março de 2010

JEJE MAHI - BOGUM

Bogum


                          


....O Engenho Velho da Federação possui, aproximadamente, entre 80 mil a 90 mil habitantes, caracterizados na sua grande maioria como afrodescendentes. Este bairro é considerado como “Quilombo Urbano”.
O fato de o Engenho Velho ter em seu território, vários terreiros de candomblé, contribuiu para isto. Comenta-se que este bairro foi resultado de escravos fugitivos, vindos de um engenho na sua proximidade. Sem dúvidas, o Terreiro do Bogum, entre outros, em função da sua história de resistência, deve ter contribuído para a caracterização deste bairro como um quilombo.
Interior do barracão do Terreiro Bogum. Foto: Valdir Argolo

O Jeje

Informa-nos Nicolau Parés do papel desempenhado pelo Jeje no Candomblé. Relata Félix Ayoh’omidire, em ÀKỌGBÀDÙN – ABC da língua, cultura e civilização iorubanas [1], que “a tão procurada etimologia do etinônimo ‘jeje’… só sobreviveu aqui no Brasil, onde se usa como uma referência para a tradição de Candomblé ewe-fon”.

A palavra ‘jeje’ não vem de “àjèjì”, termo iorubano que significa ‘estrangeiro’. O termo ‘jeje’ vem, seguramente, deste oríkì orílè de ìran àjèjè que é uma das linhagens originais que ocuparam a área central da atual República do Benin (antigo Daomé), fruto das primeiras migrações de núcleos iorubanos, que se instalaram no espaço que se estende até Tado, na atual República de Togo.
Segundo ele, os fons foram os últimos a chegar ao espaço geográfico na área que constitui a região central da República de Benin. Além de incorporem a sua língua e cultura, agregaram muitos elementos significativos desenvolvidos pelos seus vizinhos.
Ainda explica Félix, que “um exemplo disso é a presença de muitos voduns que são os paralelos de alguns orixás iorubás, voduns esses cujos nomes ainda refletem a sua origem iorubá. Por exemplo, o vodum Legba é o mesmo Exù Ẹlégbara; enquanto o Ṣàngó dos iorubanos virou Hevioso”.
Quanto ao sistema de adivinhação, embora seja chamado de Ifá entre os iorubanos, “é conhecido simplesmente como Fá entre os ewe-fon”. Em relação ao azeite de dendê, elemento fundamental da culinária religiosa, em especial na Bahia, foram os Aresas os introdutores da técnica de extração do dendê naquela região.
Quanto aos jeje, afirma o autor, são conhecidos em Cuba como arará, termo cuja origem ainda “não foi desvendada pelos historiadores até o momento atual”.
Concluindo, afirma Félix: “a minha tese a respeito da origem dos jeje é que esse povo estava com maior freqüência na sua identidade de ajeje aqui no Brasil, como isso acontece ainda hoje, em meios ioruba-africano… muitas pessoas só preferem citar seu oríle em vez de dar o seu nome próprio ou nome de família”.
O “Jeje”, é assim que o povo se refere, com carinho e reconhecimento, ao Zoogodô Bogum Malê Rundó, instalado no “fim de linha” do Engenho Velho da Federação. Parés testemunha o dinamismo de seus sacerdotes e sacerdotisas, no enriquecimento do patrimônio cultural religioso negro. Atores da resistência deste “modo particular de rezar”, adoçavam este “bom combate” com atos de dignidade.
A comunidade do Bogum expõe a sua particularidade dizendo-se único, embora haja a consciência de íntimas ligações com o jeje-marrim de Cachoeira, a Roça de Cima.
Esta Roça seria a continuidade do Candomblé do Bitedô ou Oba Têdô, localizada na Recuada. Ligado a este templo estaria o sacerdote Kixareme ou Tixarene e a venerável sacerdotisa Ludovina Pessoa da Irmandade da Boa Morte e elo de ligação entre Cachoeira e Bogum.
D. Ludovina seria a iniciadora do clã feminino do Bogum, através da realização dos processos iniciáticos de Maria Emiliana da Piedade, mãe carnal de Maria Luisa Piedade, a venerável Maria Ogorensi ou Angorensi, fundadora do Seja Hundé em Cachoeira, Terreiro contemporâneo da Roça de Cima onde, segundo comenta-se, reduto de concentração jeje, após a extinção da Roça de Cima.
Maria Romana Moreira, iniciada por Ogorensi, conhecida como Romaninha de Possu Betá Poji, desempenhou importante papel tanto em Cachoeira quanto no Bogum, onde assumira o papel de Deré, o segundo cargo jeje mais elevado, tendo apenas como superior o cargo de Doné, no Bogum, ou Gaiaku, em Cachoeira.
A ocupação deste posto se efetivou antes da ascensão de Maria Valentina dos Anjos, a sempre lembrada Doné Runhó, na direção máxima do Bogum.
Este vínculo entre o Bogum e os terreiros jeje-marim de Cachoeira recebe, por vezes, contestações, dividindo opiniões. Alguns mencionam o fato de Ludovina Pessoa ter sido a primeira mãe-de-santo do jeje-marrim, fato que alguns do Bogum contestam, alegando que esta era apenas uma das antigas amigas da Casa.
Lidamos com a falta de registros seguros, o que nos impede de uma posição consolidada, mas podemos optar que, provavelmente, Ludovina seria fundadora da Roça de Cima, em 1860, e teria ligações com o Bogum, no mínimo, como uma figura relevante, ou seja, muito mais que “uma amiga da casa”. Alguns mantêm a opinião que ela fora “uma antiga Mãe de santo jeje”.
Ao que parece, após o tempo de Ludovina, houvera uma marcante interrupção nas atividades do Terreiro, surgindo na memória coletiva o prenome Valentina e a identificação do seu vodum Adaen, como autoridade máxima, dissera certa feita Doné Runhó a pesquisadores do Ceao.


Doné Nicinha comandou o Bogum de 1978 a 1994.

O CLÃ

Dos anos 30 aos anos 50 comenta-se o sacerdócio da Doné Emiliana da Piedade, vodunsi de Ágüe. Seguida por Maria Romana Moreira, Romaninha de Pó, na condição de Deré, assumindo por um breve período os destinos do Bogum, entre 1953 a 1956, fato que não conta com a unanimidade.
A partir de Valentina Maria dos Anjos, a famosa Mãe Runhó, consagrada a Sogbo Adan, de 1960 a 1975, a linha sucessora parece clara e sem contestações.
Segue-se o período glorioso de Evangelista dos Anjos Costa, Lokossi, a sempre lembrada Mãe Nicinha, de Loko. Sua regência, mantendo as tradições mais caras do Bogum, estendeu-se de 1978 a 1994.
Chegamos aos dias atuais e à escolha da seguidora de Mãe Nicinha, cujos feitos memoráveis foram a reforma do espaço sagrado do seu templo e a solicitação da inclusão do Artigo 27o na Constituição Baiana. Os búzios, exaltados pelo Oluwó Agenor Miranda, em 30 de maio de 2002, indicou o nome de Zaildes Iracema de Mello, hieronímio Nandoji, uma filha de Azonsu, conhecida por Mãe Índia, neta da venerável Runhó, assumindo o cargo em 11 de agosto de 2003, com 36 anos de idade e no vigor da sua juventude.
Realizou a ampliação e reformas do sítio religioso do Bogum, (a primeira reforma fora feita na gestão de Gilberto Gil à frente da Fundação Gregório de Mattos e a segunda reforma na gestão do prefeito Antonio Imbassay).
A biografia religiosa de Mãe Índia, ou Nandoji Índia, começa com a sua iniciação pelas mãos de Doné Nicinha, tendo como pai pequeno o humbono Pai Vicente do Matatu, um grande sacerdote do rito jeje, iniciado na vida religiosa por Maria Romana.
Nandoji Índia seria a primeira na ordem iniciática, com a titulação de dofona do seu barco. Filha de uma família que manteve as tradições jeje, tem como pais dona Antonia Firmina de Melo e o sempre lembrado, pelos seus profundos conhecimentos das tradições religiosas jeje, Amâncio Melo.
Dedica-se atualmente à vida sacerdotal, já inaugurando alguns barcos (em torno de três). É difícil elaborar uma listagem completa dos iniciados no Bogum, porém julgamos serem muitos. Calcula-se em, no mínimo, 60 a 100 barcos somando-se os de Doné Runhó, Mãe Nicinha, Emiliana de Ágüe, Romaninha de Pó e Valentina.


Nandoji Índia é a atual dirigente do Bogum. Foto: Arlindo Felix

As Divindades

O Zoogodô Bogum Malê Rundó possui no seu quadro de divindades, dentre outras, os seus patronos – os voduns Bafono Deca e Ajonsu ou Azonsu -, regendo os destinos e cumeeira. A divindade máxima é Mawu-Lissa, Olissassa, Olissá, Olissasi. As suas festas realizam-se ao fim do ano, após o Ossé de Lissa- ritual restrito aos seus iniciados- e são muito concorridas.
O Bogum também realiza a sua missa na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em louvor a São Bartolomeu e São Jerônimo. O primeiro dava nome a sua associação civil, com o título de Sociedade Fiéis de São Bartolomeu do Terreiro do Bogum. Fundada em 1937, esta sociedade, na década de 1970, teve o privilégio de ser dirigida por Edvaldo dos Santos Costa, destacado ogã da casa, filho consangüíneo de Mãe Nicinha, que teve como mérito maior a reestruturação da entidade, com seus estatutos publicados no Diário Oficial em 16 de outubro de 1977.
Esta organização, representativa da atividade civil do terreiro, ficou inativa até 1983, quando, sob a presidência do Sr. Lídio Pereira dos Santos, venerável ogã da Casa e decano querido e respeitado, retomou suas atividades.
Atualmente, a organização civil sofre mais uma reformulação sendo que, em assembléia, foi inaugurada uma nova entidade com o nome de Associação dos Fiéis Jeje Mahin, numa postura de desvincular o terreiro de laços com o catolicismo. Embora se tenha alterado a denominação, as relações com a Igreja da Nossa Senhora do Rosário dos Pretos ainda permanecem.
Os fiéis, ao chegarem à área da Avenida Vasco da Gama, em frente ao Terreiro da Casa Branca, vindos da missa, visitam este terreiro e em procissão, sobem a íngreme Ladeira do Bogum, com fogos e cânticos e contornam, no Largo das Palmeiras, o busto de Mãe Runhó, instalado pela prefeita Lídice da Mata. Vão em direção às portas do terreiro, onde incorporam os voduns e entram no templo, saudados pelos tambores, e no seu interior realizam-se as danças sagradas.
As festas, na tradição jeje do Bogum, têm os voduns Gum (Gu), Agangatolu, Ágüe e Logunedé; voduns da família dos Kavionô ou Kavionus: Sobô ou Sogbo, Pó ou Kpó, Badé, Adaen ou Adan, Ajiripapô ou Ajiribabô, Afonjá; o vodum Aziri ou Aziritobossi; o vodum Hoho ou Ibejes, o vodum Ajonsu, com festa dedicada ao patrono da Casa e de Mãe Índia; além de Nanã.
A 31 de dezembro acontecem as obrigações do Sé ou ossé de Lissa, onde se realiza a purificação dos assentamentos da entidade maior, que alguns chamam de “Águas de Oxalá”. Os ritos festivos se realizam nos meses de janeiro e fevereiro, sendo que neste, realiza-se o Olugbajé, a grande festa de Ajonsu, Omolu com um banquete comunal. O Bogum também cultua os Caboclos, no seu dia festivo e cívico, o Dois de Julho.
No repertório de atividades rituais vale destacar o zandró (a vigília sacra jeje) com procissões internas e ofertórios instalados aos pés das árvores sagradas, o boitá. Durante os dias do ano o Bogum realiza obrigações dos seus iniciados e rituais propiciatórios, dentre outros eventos comunitários em favor da população do bairro do Engenho Velho da Federação, além de atendimento aos que necessitam dos seus poderes religiosos.
Oferendas são realizadas pelo povo do Bogum, preferencialmente em árvores, no mar e fontes, no Dique do Tororó e, outrora, no Parque São Bartolomeu, por sua ligação com a entidade católica reverenciada pelo jeje.
O rito fúnebre da liturgia jeje é o zelim, zerrim ou sirrum, que equivale ao axexé da organização religiosa nagô e ao macondo da nação angola. Esta celebração é privativa aos falecidos de posição hierárquica elevada, sendo que na ocasião se homenageia personalidades ilustres falecidas de outras nações. Os ritos fúnebres do Bogum, a exemplo de outras casas, são realizados com cuidados e rigor, obedecendo as interdições decorrentes deste rito.

Um exemplar da divindade Loko, cultuada no Bogum. Foto: Xando Pereira

Fitolatria

O Terreiro do Bogum está intimamente associado às árvores. Assim é que a Gameleira (Fícus doliaria), representa uma divindade, uma hierofania do vodum Loko, a exemplo de um exemplar localizado no Caminho de São Lázaro, na Federação.
O exemplar anterior foi destruído, segundo dizem por ação de adversários religiosos do Candomblé ou simplesmente vândalos, ou fieis que colocavam velas na proximidade desta árvore. Outros atribuem a sua destruição a uma espécie de auto-combustão.
Conta-se da vinculação do Bogum com o Gantois através do fato de uma avó de Mãe Menininha, conhecida como Salakó, ter plantado naquele terreiro uma árvore consagrada a Azanodô.
O crescimento urbano, descontrolado, tem vitimado o “espaço floresta” dos Candomblés e o Bogum também tem sido vítima. A árvore-sacrário, vodum Azonodô, que habitava próximo ao terreiro tombou em 1979, de acordo com Jheová de Carvalho. Segundo ele, por ações de vândalos que a envenenaram sistematicamente até a sua morte. Dizem que ela teria gemido ao tombar.
No Bogum junto à casa de Omolu encontra-se uma árvore de Loko, objeto de culto, além de uma jaqueira, também sagrada. Existe ainda um bilreiro sagrado.
Encontramos uma acácia consagrada a Azonodô. Como elemento do reino vegetal, podemos ver as janelas e portas decoradas com mariô ( folhas desfiadas de palmeiras) relacionado ao vodum Gu.

Respeito e Admiração

As autoridades religiosas do Bogum gozam do respeito da comunidade do povo-de-santo. São citados em reconhecimento os nomes das Donés Emiliana, Ruinhó, Nicinha e Índia, inclui-se a Deré Romaninha de Pó, ekede Santa e os huntós ou ogãs Manoel da Silva, Romão, Amâncio de Melo, Edvaldo, Duarte, Lídio, Sargento Celestino, Gilberto Roque, Antonio Jorge, Jackson, Ailton, Luizinho, Tico, dentre muitos outros.
As suas festas são freqüentadas por centenas e centenas de amigos, simpatizantes e admiradores. O Bogum convive harmoniosamente com os templos vizinhos, a exemplo do Ilê Obá do Cobre, Tanuri Junçara, Casa Branca, Odé Mirim, Unzó Oquinin Bamborucema, Terreiro de Oxumaré, Terreiro do Gantois e outros distantes, incluindo os localizados em outros Estados em especial os do Maranhão (também reduto jeje) e os do Rio de Janeiro. Do ponto de vista internacional existem laços com o Benim e Haiti.
Citada em inúmeras obras, a comunidade jeje do Bogum recebe um bom conceito por suas práticas litúrgicas na etnografia dos cultos afro-brasileiros.
O Zoogodô Bogum Malê Rundó resiste ao tempo e aos desafios através do empenho da Nandoji Índia na manutenção das regras que sempre caracterizaram o povo do Bogum, educando os seus fiéis com valores elevados da sua história e digna resistência......

Texto: Jaime Sodré -