segunda-feira, 28 de março de 2011

XANGO/HEVIOSO/NZAZI - PARTE III - QUALIDADES DE XANGO


AS QUALIDADES DE XANGÔ



OBÁ AFONJÁ - Àfonjá, o Bale (governante) da cidade de Ìlorin. Àfonjá era também Are-Ona-Kaka-n-fo, quer dizer líder do exército provincial do império. Àfonjá descendia, por parte de mãe, de uma das famílias reais de Oyo. ¹Patrono de um dos terreiros mais tradicionais e antigos da Bahia, o Axé Opô Afonjá, é o Xangô da casa real de Oió. Nesse avatar Xangô Afonjá é aquele que está sempre em disputa com Ogum. Um dos mitos que relata tal passagem nos conta que Afonjá e Ogum sempre lutaram entre si, ora disputando o amor da mãe, Iemanjá, ora disputando o amor de suas eternas mulheres, Oiá, Oxum e Oba. Lutaram desde o começo de tudo e ainda lutam hoje em dia. No entanto, naquele tempo, ninguém vencia Ogum. Ele era ardiloso, desconfiado, jamais dava as costas a um inimigo. Um dia, Afonjá cansado de tanto perder as batalhas para Ogum, convidou-o para ter com ele nas montanhas. Afonjá sempre apelava para a magia quando se sentia ameaçado e não seria diferente daquela vez. Ao chegar no pé da montanha de pedra, Afonjá lançou seu machado oxé de fazer raio e um grande estrondo se ouviu. Ogum não teve tempo de fugir, foi soterrado pelas pedras de Afonjá. Xangô Afonjá venceu Ogum naquele dia e somente naquele dia. Por essas características que o mito mostra, filhos de Afonjá tem um espírito jovem e sábio, são feiticeiros, libertinos, tirânicos, obstinados, galantes, autoritários, orgulhosos, e adoram uma peleja.


OBÁ KOSSO - Nesse momento, Xangô, casa-se com Obá e funda a cidade de Kosso, nos arredores de Oyò, tornando-se seu Rei.


OBA LUBÊ - Nesse momento, Xangô, destrona seu irmão Dadà Ajakà, e assume o trono de Oyò. Época de grande expansão do império de Oyò. ¹Em sua passagem pela cidade de Cossô, Xangô recebe o nome de Obacossô, ou seja, o rei de Cossô. Conta o mito que, depois de passar pela terra dos tapas, Xangô refugiou-se na cidade de Cossô, mas a dor de haver destruído seu povo, levou o rei a suicidar-se. No momento da morte de Xangô, Iansã chegou ao Orum e, antes que Xangô se tornasse um egum, pediu a Olodumare que o transforme num orixá. Assim Xangô foi feito orixá pelo pedido de sua mulher Iansã. Os filhos de Obacossô são serenos, tiranos, cruéis, agressivos, severos, amorosos, moralistas.

OBÁ IRÙ ou BARÙ- Nesse momento, Xangô chega ao apogeu do império, cria o culto de Egungun, grande expansão, é o senhor absoluto dos raios e do fogo em todas as suas formas. Ele acaba por destruir a capital do Reino com os raios numa crise de cólera, e depois arrependido, se suicida, adentrando na terra da mesma forma que Ogun, daí o nome Obà Irù "Rei sepultado".¹Conta o mito em que Xangô recebe de Oxalá um cavalo branco como presente. Com o passar do tempo, Oxalá voltou ao reino de Xangô Baru, onde foi aprisionado, passando sete anos num calabouço. Calado no seu sofrimento, Oxalá provocou a infertilidade da terra e das mulheres do reino de Baru. Mas Xangô Baru, com a ajuda dos babalaôs, descobriu seu pai Oxalá preso no calabouço de seu palácio. Naquele dia, ele mesmo e seu povo vestiram-se de branco e pediram perdão ao grande orixá da criação, terminando o ato com muita festa e com o retorno de Oxalá a seu reino. Assim seus descendentes míticos agirão sempre como um jovem desconfiado, ambicioso, elegante, teimoso, hospitaleiro, galante; neste avatar, e somente neste, Xangô surge como um rei humilde e solidário com a causa de seu povo.

OBÁ AJAKÁ - Também intitulado Bayaniym," O pai me escolheu ", que faz referência a ele por ser o filho mais velho de Oraniã, e ter por direito que assumir o trono, irmão mais velho de Xangô.


OBA AIRANà- Personificação do fogo.


OBA AGANJÚ - Ele representa tudo que é explosivo, que não tem controle, ele é a personificação dos Vulcões. Falarei separadamente sobre Aganju


OBA ORUGà- Filho de Aganjù com Yemanjà, violentou a própria mãe quando Aganjù não estava, este Orixá é o senhor do Sol.

OBA OGODÔ - Tio de Xangô, por parte materna, rege os trovões os tremores de terra. ¹Sincretizado com São Jerônimo em terreiros onde o sincretismo ainda é observado; é aquele que, ao lançar raios e fogo sobre seu próprio reino, o destrói. Gente de Agodô é do tipo guerreira, violenta, brutal, imperiosa, aventureira, amante da ordem e da justiça, mesmo que isso implique numa justiça pautada em seu próprio benefício.


OBÁ JAKUTÀ ou DJAKUTÀ- Esse Orixá, é a representação da justiça de Olorun, miticamente Xangô foi iniciado para este Orixá, é muito explosivo e justiceiro. ¹É o senhor do edun-ará, a pedra de raio. Conta o mito que o reino de Jacutá foi atacado por guerreiros de povos distantes, num dia em que seus súditos descansavam e dançam ao som dos tambores. Houve muita correria, muita morte, muitos saques. Jakutá escapou para a montanha seguido de seus conselheiros, donde apreciava o sofrimento de seu povo. Irado, o rei chamou sua mulher Iansã, que, chegando com o vento, levou consigo a tempestade e seus raios. Os raios de Iansã caíram como pedras do céu, causando medo aos invasores, que fugiram em debandada. Mais uma vez, Jakutá fora acudido por Iansã, e mais, sua eterna amante deu-lhe, dessa feita, o poder sobre as pedras de raio, o edun-ará. Gente de Jakutá tem espírito de um velho pensador, justiceiro, incansável, brutal, colérico, impiedoso, preocupado com a causa dos outros.

OBA ORANIà- Pai de Xangô, foi ele quem fundou o reino de Oyò, em muitas lendas, ele é o criador do mundo, é um guerreiro muito poderoso.

OLOOKÈ - Orixá dono das montanha, em algumas lendas é um dos filho de Oraniã, foi casado com Yemanjá.


¹Parte do texto Xangô, Rei de Oió - Reginaldo Prandi Armando Vallado





domingo, 27 de março de 2011

SIMBOLOS XANGO/HEVIOSO/NZAZI - PARTE IV



AWE OU IKOKO - pote ritual, normalmente cheio d'água é deixado ao lado do assentamento, por vezes enterrado até a metade. A água nele guardada é bebida por ser considerada como detentora de grande força. Quando é realizado sacrifício, suas paredes externas recebem um pouco de sangue.

O pote em forma de chaleira tem um simbolismo masculino e feminino. Na tampa tem a escultura da cabeça de um lobo que é o animal  consagrado aos grandes deuses , quando o punho for feito com a árvore do carvalho  que é consagrada à todos os deuses do fogo, tais como Shango, Yahweh, Júpiter, e Thor;  o carvalho deve ser cortado com o machado duplo.



No culto Lukumi tem um caminho de sango (sango yele) onde eles dizem que ele é um mago verdadeiro que voa em uma vassoura de " mariwo " para resguardar suas casas dos inimigos e do fogo. Tem caras diferentes e pode se disfarçar como uma mulher vestindo uma saia de" mariwo " (o mariwo é feito   da fibra da palma que é  submersa na água para fazê-la ficar macia) Muda assim freqüentemente que poucos  povos podem reconhecê-lo. É um guloso que ama o quiabo cozido com farinha do milho, e banha de porco e sem caroço. Esta sopa é derramada  dentro de sua bacia, em cima de suas pedras. Esta sopa é oferecida e  feita especialmente quando seus seguidores quiserem acalmar ou pedir algo dele.
Sango Obaylle -  dizem que podemos encontrá-lo á viver no alto da árvore de palmeira real. Todas as oferendas são entregue a eles lá, em especial pencas de bananas amarradas com uma fita vermelha. Este é o único Sango que foi forçado a viajar, ou vagueia pela cidade para tentar recuperar seu trono. Era " um rei desabrigado " que perdeu seu reino para ser um monarca irresponsável. Era um dia rico e no seguinte um pedinte. A lenda diz que um dia onde cozinhava um rato do arbusto e alguns viajantes vieram e ele ofereceu uma parte do pouco alimento que comia. Os viajantes  eram  espíritos que como  recompensa da sua generosidade convidou um exército de espíritos e deu-lhe de volta seu trono.

SÍMBOLOS DE XANGO/HEVIOSO/NZAZI - PARTE III


Altar de Sango com a laba pendurada na parede

 LABA é uma bolsa de couro pintada com osun, bordada com contas coloridas, só feita na África e cujos desenhos são sagrados. Ela à dividida em quatro partes e suas figuras, que lembram o raio, são assimétricas e evocam os três segmentos do raio e do triângulo. 0 número três é o par mais um, sugerindo movimento e continuação - ou seja, a própria vida. São sempre colocadas acima do assentamento de Sango.

Ajerê - Panela de barro que contém o acará mechas de algodão embebidas em dendê, que, acesas lembram o fogo de Sango.



BATA - Símbolo do som primordial da palavra, da tradição e da magia. O tambor estabelece relação com o coração , na África. Tanto nas culturas mais primitivas, como nas mais evoluídas, assimila-se ao altar sacrificial, e por isto tem o carretar mediador entre o céu e a terra. Alguns dizem que Sangro usa o bata para atrair os relâmpagos


Itan Obara-irosun

Sango se encontrava em má situação econômica e se sentia muito mal na terra em que estava vivendo, um dia, se encontrou com Esu e conversando Sango contou toda sua situação, dizendo que onde vivia as pessoas o maltratavam e as coisas iam mal, e pediu a Esu que encontra-se um  onde ele pudesse viver e sentir-se bem. Passado um tempo, esu encontrou-se novamente dom Sango e disse que tinha conseguido um lugar, um povo onde Sango com certeza se sentiria bem e poderia prosperar.
Sango todo satisfeito se encaminhou até este povo, instalando-se em uma casinha que Esu havia  conseguido de antemão. Sango entrou e gostou muito daquela casinha e o ambiente que lhe cercava. estimulado desempacotou suas coisas e tirou também seu tambor bata, e começou tocá-lo de forma entusiasmada, sem prestar atenção que aos poucos, devagar   tinha se  aglomerado um numeroso grupo de pessoas, que subjugados pelo som de seu tambor,   giravam em frente em frente a casa , pois naquela terra não se conhecia a música, dado que o rei daquele povo tinha proibido tocar musica e essa era a primeira vez que ouviam. Sango ao perceber o grupo de pessoas que tinha na sua frente, tocava mas freneticamente seu tambor. Nesse meio tempo, o rei foi informado    que perto dali havia um homem que tinha revoltado o povo com uma música produzida por um tambor. O rei muito intrigado se dirigiu até onde estava a multidão e, abrindo caminho por entre o povo, logo chegou frente a frente com Sango, quem delirantemente fazia soar seu tambor Bata. Pouco tempo observando o rei deu um salto e caiu também fascinado pelos acordes daquele tambor, rodando até o chão   a coroa que levava em sua cabeça, caiu sobre a cabeça de Sango, Esu que estava ao lado de Sango  imediatamente perguntou ao povo que estava congregado ali sobre quem queriam que fosse seu verdadeiro rei, e o povo em uma só voz disse que queria Sango, e a partir daquele momento Sango se curvou.
Reinando naquela terra, fez um novo povo para ele, trazendo a felicidade e a música para seus seguidores.  meio tempo, o rei foi informado    que perto dali havia um homem que tinha revoltado o povo com uma música produzida por um tambor. O rei muito intrigado se dirigiu até onde estava a multidão e, abrindo caminho por entre o povo, logo chegou frente a frente com Sango, quem delirantemente fazia soar seu tambor Bata. Pouco tempo observando o rei deu um salto e caiu também fascinado pelos acordes daquele tambor, rodando até o chão   a coroa que levava em sua cabeça, caiu sobre a cabeça de Sango, Esu que estava ao lado de Sango  imediatamente perguntou ao povo que estava congregado ali sobre quem queriam que fosse seu verdadeiro rei, e o povo em uma só voz disse que queria Sango, e a partir daquele momento Sango se curvou.
Reinando naquela terra, fez um novo povo para ele, trazendo a felicidade e a música para seus seguidores. 

SIMBOLOS DE XANGO/HEVIOSO/NZAZI - PARTE II

OSHE






OSHE - machado - é um dos principais símbolos, havendo numerosas referências a seu uso durante a existência humana de sango. É representado por um machado de dois gumes sobre a cabeça de uma mulher ajoelhada ou um homem em pé, sendo colocado acima do igba de sango ou numa gamela. O mesmo símbolo é ostentado pelos cultuadores de Sango em suas propriedades, visando a obter proteção contra roubos e azares. Se algum feiticeiro ou bruxa tentar atacar uma casa protegida pelo oshe de sango, não terá sucesso e se algum ladrão tentar furtar algo, sentira medo e provocará a fúria do orixá.




Machadinha dupla ou de duas lâminas, de madeira ou metal, que representa o raio e, ainda, vida e reprodução. É o anti-símbolo da morte, pois SANGÔ só gosta de tudo que é quente, vivo. 0 Oshe lembra o símbolo de Zeus, em Creta




Os oshe-Sòngó, inspirados nesses machados de pedra, são machados característicos que simbolizam esse poder de desprender um corpo resultante de uma interação e são os mais poderosos transmissores de àse vermelho, aquele que assegura vida e reprodução.




Machado de Heviosso, deus do trovão e do relâmpago, é uma escultura que simboliza um carneiro.




Na dança de Shango este tipo de oshe que é o machado de Dada são decorados freqüentemente com o pigmento azul escuro (índigo). O pigmento azul é usado para duas finalidades -- embelezar e acredita-se para fornecer a proteção.

SIMBOLOS DE XANGO/HEVIOSO/NZAZI - PARTE I


EDUN-ARA - "pedra de raio" - acredita-se que o edun ara venha dos céus, juntamente com os raios. Esse tipo especifico de pedra encontrado em local atingido por raios é o otá de sango e é usado em seu assentamento. Segundo o povo Yoruba , esta pedra só pode ser recolhida por filhos sango.
O raio é uma espécie de machadinha de pedra, arremessada do céu, durante as trovoadas. Achá-lo é muito fácil. Basta cavar sete palmos (influência da profundidade das covas de defuntos?) ao redor do obstáculo sobre o qual cai o raio e certamente se encontrará a machadinha. Lembra vagamente uma machadinha de pedra, com o fio quebrado em toda a sua extensão.
Assim como Oya está representada pelo relâmpago, Sòngó está representado pelo trovão. O aspecto de interação aparece outra vez aqui, estando esse significado sublinhado pelo fato de que dessa interação se desprende um corpo, edùn-àrá (pedra-do-raio), considerado a representação do corpo de Sòngó, seu símbolo por excelência. Na realidade os edùn-àrá são machados de pedra desencavados, que se considera terem sido lançados por Sòngó.






ODO-SANGO - Pilão de sango - dizem os mitos que sango, por ser muito forte, sentava-se sobre o pilão.... Este é posto com a base para cima e sobre ele é colocada uma gamela de madeira ou barro, repleta até a borda de edun-ará e ai   são realizadas as ofertas de sacrifícios. Tais pedras segundo a crença são tão fortes que somente o  pilão   pode suportar sua vibração. Mesmo o pilão de uso doméstico costuma ter sua posição invertida nos dias de chuva, em homenagem a Sango. Peça entalhada, retratando cenas da vida de Sango



Sere - espécie de cabaça usada como chocalho. Comprida e repleta de preparados mágicos,,, quando agitada produz um som característico que evoca Sango, seja na festa anual, na iniciação ou no oferecimento de oferendas. Quando não está sendo usado, é colocado junto ao oshe.



ERE - imagens esculpidas que, nos assentamentos de Sango  representam um homem forte trajando blusa e saia coberta de búzios e talismãs, com cabelos trançados, representando o próprio Sango e uma mulher guerreira de grande feminilidade, com uma espada na mão, representando sua esposa favorita





Adé Bayani - peça cerimonial usada    pelos oni-sango. São casquetes de búzios com fios também repletos por búzios, que caem como pequenas serpentes pela face. São de aparência feminina e muito poderosas. Esta coroa legendária de sango é denominada Bayanni(papai me escolheu) e refere-se ao orixá de mesmo nome, a frágil irmã de sango, cuja existência serviu para coroá-lo. Algumas lendas contam que ela reinou após o irmão mais velho sango  ter deixado o trono e suicidou-se por não suportar a dor ao saber do incidente ocorrido com sango em Koso.

XANGO/HEVIOSO/NZAZI - PARTE II

Xangô, o estrategista

Um dos orixás mais venerados em toda a Diáspora e conhecido como a mais forte expressão masculina da energia dos orixás. Xangô é a essência da estratégia.
Associamos este orixá ao deus grego Zeus e o deus romano Júpiter, pois todos eram reis e donos dos raios e deuses muito poderosos. Este é o poder de Xangô. Inimigo do mal e do sofrimento, é um orixá muito íntegro e adora corrigir erros.
Segundo a lenda, Xangô era um rei muito poderoso, que não mostrava nenhuma clemência aos seus inimigos e sua fama se espalhou por toda a África. Sua personalidade foi tão notável que seu espírito foi elevado ao status de orixá, depois da sua morte. Honrado pela maioria dos territórios africanos, de onde até mesmo os Bantos da área do Congo vieram lhe prestar homenagem. Lá ele era chamado de Nsasi. No Daomé era chamado de Hevioso e Djakutá. Sua popularidade não se extinguiu na África, mas se espalhou também pela América, onde a cada dia aumenta a devoção ao nosso amado Xangô.
Apesar de sua integridade, Xangô não é um orixá moralista. Digamos que é um excelente estrategista. Afinal, um rei próspero é, geralmente, um ótimo estrategista. Se nos referirmos à sua energia como tendo o “poder da dança”, o “poder do tambor”, o “poder da palavra”, podemos ter alguma idéia da posição deste orixá no panteão. A habilidade para falar é essencial a um estrategista. A habilidade de Xangô em visualizar o futuro e de ter comprado de Orunmilá as suas habilidades, é um outro modo de reconhecer o grande estrategista que está olhando os movimentos do futuro.
A expressão de Xangô, ao invés da essência da sua energia é bastante interessante. Em nossa cultura ocidental, a satisfação a curto prazo é o que todos querem e esta habilidade para manobrar os outros se expressa em um comportamento ruim. Desta forma, Xangô sempre está predisposto a oferecer satisfação a curto prazo, sem levar em conta as conseqüências a longo prazo. A confiança de Xangô de que sua energia sempre vai descobrir uma forma de se livrar das dificuldades leva a isto. Mas, esta é a expressão da energia, não sua essência.
Não é uma falha em Xangô, mas em nossa sociedade.
A utilização da energia de Xangô pode ser poderosa e construtiva, mas, examine o seu caráter antes de utilizá-la. Muitas das lendas de Xangô o mostram em relação com diversas mulheres. Yemanjá era sua mãe. Teve relações com Oxum, Oyá e Obá. Obá era sua esposa legítima, mas ele gastou muito mais tempo com Oxum e Oyá. Era um verdadeiro mulherengo e as mulheres o amavam. Depois de ter trocado suas ferramentas de adivinhação com Orunmilá em troca da habilidade de dançar e falar, nada o deteve. Mas, freqüentemente, isto lhe causou problemas e teve de perder muito tempo em guerras. Xangô tinha um grande poder psíquico e o utilizava para se sair vitorioso das diversas situações perigosas que vivera. Os filhos de Xangô nascem, em sua maioria, com essas habilidades.

Um dos símbolos de Xangô é o Oxé, um machado que possui duas lâminas. Esta é a arma que Xangô utilizava para destruir seus inimigos e também é um símbolo do equilíbrio. Da mesma forma, associamos a Xangô a balança, também símbolo do equilíbrio e da justiça, da qual ninguém consegue fugir. Uma forma de Oxé também era utilizado no império romano para simbolizar a autoridade do Imperador e o poder que ele tinha.
Apesar de todo o seu poder, a energia de Xangô não é utilizada indiscriminadamente. Seu trabalho é cuidar das leis universais. Sua ira não é dirigida a qualquer um, mas para aqueles que cometeram alguma infração ou foram injustos. Ele não só protege seus filhos, mas todos os outros filhos dos outros orixás. Qualquer um que se sinta prejudicado pode buscar a ajuda de Xangô, se são, verdadeiramente, as vítimas da injustiça. 

XANGO/HEVIOSO/NZAZI - PARTE I


Xangô nasce do poder morre em nome do poder. Poder é sua síntese. Rei absoluto, forte, imbatível: um déspota. O prazer de Xangô é o poder. Xangô manda nos poderosos, manda em seu reino e nos reinos vizinhos. Xangô é rei entre todos os reis.
Xangô gosta dos desafios, que não raras vezes aparecem nas saudações que lhe fazem seus devotos na África. Porém o desafio é feito sempre para ratificar o poder de Xangô.
A maneira como todos devem se referir a Xangô já expressa o seu poder. Procure imaginar um elefante, mas um Elefante-de-olhos-tão-grandes-quanto-potes-de-boca-larga: esse é Xangô e, se o corpo do animal segue a proporção dos olhos, Xangô realmente é o Elefante-que-manda-na-savana, imponente, poderoso.
Percebe-se que a imagem de poder está sempre associada a Xangô. O poder real, por exemplo, lhe é devido por ter se tornado o quarto alafim de Òyó, que era considerada a capital política dos iorubas, a cidade mais importante da Nigéria. Xangô destronou o próprio meio-irmão Dadá-Ajaká com um golpe militar. A personalidade paciente e tolerante do irmão irritavam Xangô e, certamente, o povo de Òyó, que o apoiou para que ele se tornasse o seu grande rei, até hoje lembrado.
O trono de Òyó já pertencia a Xangô por direito, pois seu pai, Oranian, foi fundador da cidade e de sua dinastia. Ele só fez apressar a sua ascensão. Xangô é o rei que não aceita contestação, todos sabem de seus méritos e reconhecem que seu poder, antes de ser conquistado pela opressão, pela força, é merecido. Xangô foi o grande alafim de Òyo porque soube inspirar credibilidade aos seus súditos, tomou as decisões mais acertadas e sábias e, sobretudo, demonstrou a sua capacidade para o comando, persuadindo a todos não só por seu poder repressivo como por seu senso de justiça muito apurado.
Não erram, como se viu, os que dizem que Xangô exerce o poder de uma forma ditatorial, que faz uso da força e da repressão para manter a autoridade. Sabe-se, no entanto, que nenhuma ditadura ou regime despótico mantém-se por muito tempo se não houver respaldo popular. Em outros termos, o déspota reflecte a imagem de seu povo, e este ama o seu senhor, seja porque nos momentos de tensão responde com eficiência, seja por assumir a postura de um pai. No caso de Xangô, sua rectidão e honestidade superam o seu carácter arbitrário; suas medidas, embora impostas, são sempre justas e por isso ele é, acima de tudo, um rei amado, pois é repressor por seu estilo, não por maldade.
Fato é que não se pode falar de Xangô sem falar de poder. Ele expressa autoridade dos grandes governantes, mas também detém o poder mágico, já que domina o mais perigoso de todos os elementos da natureza: o fogo. O poder mágico de Xangô reside no raio, no fogo que corta o céu, que destrói na Terra, mas que transforma, que protege, que ilumina o caminho. O fogo é a grande arma de Xangô, com a qual castiga aqueles que não honram seu nome. Por meio do raio ele atinge a casa do próprio malfeitor. Xangô é bastante cultuado na região de Tapá ou Nupê, que, segundo algumas versões históricas, seria terra de origem de sua família materna.
Tudo que se relaciona com Xangô lembra realeza, as suas vestes, a sua riqueza, a sua forma de gerir o poder. A cor vermelha, por exemplo, sempre esteve ligada à nobreza, só os grandes reis pisavam sobre o tapete vermelho, e Xangô pisa sobre o fogo, o vermelho original, o seu tapete.
Xangô sempre foi um homem bonito extremamente vaidoso, por isso conquistou todas as mulheres que quis.
Xangô era um amante irresistível e por isso foi disputado por três mulheres. Iansã foi sua primeira esposa e a única que o acompanhou em sua saída estratégica da vida. È com ela que divide o domínio sobre o fogo. Oxum foi à segunda esposa de Xangô e a mais amada. Apenas por Oxum, Xangô perdeu a cabeça, só por ela chorou.
A terceira esposa de Xangô foi Oba, que amou e não foi amada. Oba abdicou de sua vida para viver por Xangô, foi capaz de mutilar o seu corpo por amor ao seu rei.
Xangô decide sobre a vida de todos, mas sobre a sua vida (e sua morte) só ele tem o direito de decidir. Ele é mais poderoso que a morte, razão pela qual passou a ser o seu anti-símbolo.

sexta-feira, 25 de março de 2011

O PODER E A HIERARQUIA

Li este texto, achei fabuloso e resolvi postar.

 O Poder e a Hierarquia por Nelson Souza - Tomege de Ogum


Ter poder, e ser de fato detentor de algum poder, são situações distintas em uma comunidade religiosa de Candomblé, isso no meu entendimento. Veja que sempre me refiro ao meu entendimento pessoal, porque o que escrevo é fruto da minha vivência religiosa. Caberia melhor dizer que é fruto da observação dos fatos e situações ao longo dos anos, com pessoas que possuem os mais variados desejos de poder, desde aqueles que rejeitam o poder que lhe é concedido, até aqueles que o desejam muito e intensamente e não medem esforços para conseguir o objetivo.

A utilização do poder e da hierarquia numa Casa de Santo não está escrita em nenhum código explícito de conduta, nem mesmo está escrito de fato; a hierarquia e o poder existem pelo simples fato de ser assim e ponto final.

Porém, são a hierarquia e o poder bem aplicados que mantém o grupo unido em torno de um objetivo ou de alguém, um líder. Mesmo se pensarmos em um trabalho filantrópico, sem fins lucrativos, perceberemos a hierarquia por trás do projeto; há sempre um líder, um catalisador, alguém a quem se prestam contas; e numa Casa de Santo não seria diferente.

O que vejo de problemático neste modelo de hierarquia e poder concentrados em mãos pouco habilidosas para o trato com as pessoas, é o fato dessa hierarquia sacerdotal estar diretamente ligada ao status que os postos de zelador, ogan, ekedi ou outro oiê dão a alguns dignatários sem preparo e sem cultura suficientes para exercer estas funções; que lidam direta e diariamente com pessoas, com emoções e sentimentos, com vidas. E, desta forma, o poder se torna um comércio e uma forma de se impor pelo medo.

Para exercer corretamente o poder é necessário, além do “direito conquistado”, ter o reconhecimento e o respeito da comunidade. É necessário ser um líder nato, e não um mero ditador de normas.

Os grandes nomes de nossa religião nem sempre tiveram educação formal completa, mas tinham carisma e sensibilidade. Portanto, a educação a que me refiro nem sempre é a formal, pois educação vem de família e, como somos uma família pergunto:

- Como estamos então educando nossos filhos?

Deve-se ter bem claro em uma comunidade quem é o líder e quem são os liderados. Falo em líder e liderados, não senhores e escravos. Frequentemente se confunde hierarquia com satisfação dos desejos do elemento mais graduado, confundindo liderança com imposição do medo. O bom líder orienta, o mau líder se aproveita da fraqueza do outro para diversos fins.

Como disse antes, em nossa religião não há um código de conduta escrito e formal; cada zelador é livre para fazer ou desfazer o que bem entender da forma como bem entender em sua Casa. Logo, isso leva à formação de entendimentos particulares das noções de respeito à pessoa, e a hierarquia passa a só ter valor quando imposta de cima para baixo e de dentro para fora do grupo detentor do poder, sendo o restante do grupo relegado à condição de mantenedores do “status Real”.

Casos típicos de confusão e de má conduta ética são os zeladores que, não tendo cultura ou educação (inclusive formal), quando empossados no comando de uma Casa não hesitam em tratar as pessoas com total desprezo, principalmente os membros da sociedade civil de maior prestígio que lhes frequentam as Casas.

A mim parece um tanto de preconceito ou revanchismo. São pensamentos retrógrados e arraigados de que, fora da Casa, o filho de santo é um médico ou um doutor, mas uma vez dentro da Casa ele fará o que for ordenado, se humilhará e será humilhado. Esse comportamento, associado à falta de ascensão social e reconhecimento profissional do zelador fora do seu próprio meio social/religioso, cria situações de constrangimento e desagrado, e acabam por excluir muitas pessoas que não compactuam com esse modelo.

Educação talvez seja um bom começo.

Não é porque não há um código de conduta que direcione o comportamento dos graduados que estes podem dispor das vidas, desejos, anseios e liberdades alheios da forma como melhor lhes convier. Somos, no mínimo, pensantes e temos sim direito ao bom e respeitoso tratamento, pois hierarquia e poder não pressupõe opressão.

Pelos motivos acima, creio que o que constantemente leva uma Casa a perder seus filhos e ser reconhecida como um local não muito confiável é a falta de capacidade do seu quadro, do seu staff, que geralmente está mais envolvido em disputas internas e silenciosas pelo poder do que centrado no que realmente importa, que é a educação e crescimento dos membros da comunidade. E, nestas disputas, não se leva em conta a sobrevivência da própria Casa como instituição de amparo aos filhos; não se leva em conta nada, somente a obtenção do poder a qualquer custo ou a manutenção dele.

Como disse anteriormente, há também os que rejeitam o poder. Estes não contribuem em nada e se colocam à margem das disputas, mas também não se posicionam contrários a estas. São como já li em um grande livro “Ogãns de bênção”, referindo-se às pessoas sem compromisso com a Casa. Não fala especificamente sobre os Ogãns, não há nenhum preconceito, refere-se à generalidade dos cargos e do status que eles proporcionam na comunidade, sem no entanto se envolverem profundamente com seus assuntos.

Claro exemplo de dominação pelo medo se dá em uma consulta de búzios ou a uma Entidade, onde o objetivo principal é a busca de soluções e respostas para um determinado assunto, e essa consulta acaba por impor ao consulente uma série de outros assuntos que não são pertinentes, mas que dão status de grande adivinho ao zelador. Refiro-me aos casos como os declarados no próprio blog sobre informações desencontradas dadas por diferentes zeladores a respeito de um mesmo assunto.

Sei que o jogo não é um tomógrafo de última geração, uma máquina programada para dar sempre os mesmos resultados com margens mínimas de erros, mas falo de percepções e de técnicas diferentes em que até o dia em que se consulta o jogo pode ter influência sobre a leitura. Uma coisa não muda em tudo isso, o interesse em ajudar ou ser ajudado do adivinho. Esse é somente um item de um grande arsenal de formas usadas para impor o medo. No jogo/consulta se “vê” que o consulente “precisa urgentemente” fazer ou deixar de fazer, ter ou deixar de ter diversas coisas e é nesse ponto que começamos a diferir o poder de fato do poder imposto. Afinal, amedrontar uma pessoa se utilizando de um jogo ou de uma Entidade para obter vantagens é coisa fácil, o difícil é encontrar pessoas que queiram orientar e cuidar, dar carinho e uma palavra de conforto. Como disse, é difícil encontrá-los, mas graças aos Orixás pessoas sérias também ocorrem em grande número, pois afinal é para isso que são graduados e ocupam seus cargos.

O objetivo deste texto é dizer que o poder deve ser utilizado para colaborar, para influenciar positivamente, para fazer crescer a comunidade e os filhos, portanto devemos, antes de nos entregar de corpo e alma, avaliar cuidadosamente que tipo de poder queremos exercer e a que tipo de poder estaremos sujeitos.

http://ocandomble.wordpress.com/author/tomege/